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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

'A CIDADE É LINDA, ORGANIZADA, GRANDE'

Pessoas de várias nacionalidades fazem o curso de português

   Um sírio e um colombiano que frequentam aulas no Sesc falam da experiência de morar em Londrina
   Majd Homji, de 21 anos, é um sírio que deixou a terra natal fugindo dos conflitos bélicos que assolam o país. Está no Brasil há dois anos e meio. “Estava chegando o tempo de eu me alistar no Exército. Fatalmente teria que empunhar armas. Vim como turista e aqui pedi asilo para ficar definitivamente”, conta. 
   O fato de ter um tio morando na cidade o fez escolher Londrina. Como trabalhava num salão de cabeleireiros na Síria, resolveu ser empreendedor na nova terra e abriu o próprio salão. Está indo bem. Incomoda, porém, a saudade e a preocupação com os pais e as três irmãs que continuam vivendo em Danasco, a capital do País. 
   A guerra civil na Síria começou em março de 2011 e já provocou mais de 260 mil mortes. Agrava a situação a presença do grupo Estado Islâmico no país, o que provoca várias frentes de batalha. ”Meus parentes vivem em Damasco, onde a guerra não está em seu pior estágio. Falo para eles como aqui é bom, mas não querem vir”, ele diz, resignado.
   Majdi não frequenta as aulas de português da professora Luciana Bataglia Mesquita, porque no mesmo horário, está em outra sala do mesmo prédio do Sesc, acompanhando o pessoal que faz o ensino médio. Na Síria, só conseguiu concluir o fundamental. Mas, sempre que possível, interage com os colegas que estão aprendendo ainda o básico do português. 
   MONTANHAS
   Formado em Engenharia Industrial, o colombiano Andres Felipe, de 30, deixou a pacata El Cerrito, cidade de 57 mil habitantes, na região de Cali, para tentar a prosperidade em Londrina. “Na faculdade, os professores dizem que o Brasil seria um bom lugar para exercer a profissão. Coo já tinha alguns amigos aqui, decidi arriscar”, explica Felipe, um dos alunos da turma de Português para Estrangeiros do Sesi. 
   Por enquanto, ele ganha a vida vendendo roupas e capinhas para telefones celulares, como ambulante, no centro da cidade, Pretende procurar uma universidade onde possa validar o diploma para depois sair distribuindo currículos. “Se der certo, faço a vida aqui”, diz, com esperança.
   Andres confessa que às vezes sente muita falta dos passeios de bicicleta que dava pelas montanhas colombianas e também da comida preparada pela mãe. Mesmo assim, pretende continuar em Londrina. “A cidade é linda, organizada, grande”, elogia. 
   ‘SOMOS TODOS IGUAIS’
   A porta da Cáritas Arquidiocesana de Londrina é uma das primeiras na qual batem estrangeiros que chegam à cidade. A entidade ligada à Igreja Católica ajuda imigrantes a se regularizarem no País. Orienta sobre documentos necessários, auxilia no preenchimento dos papéis solicitados pela Polícia Federal. 
   Segunda a coordenada executiva da instituição, Márcia Ponce, mesmo com a crise econômica brasileira, o fluxo só aumenta. Em 2010, a Cáritas de Londrina recebeu 91 imigrantes. Este número foi crescendo até chegar a 418 em 2015. Neste ano, até julho, já foram 527. 
    Haitianos e bengaleses, atraídos por ofertas de trabalho em frigoríficos da região, são a grande maioria dos atendidos. “Muitos já estão estabelecidos e começam a trazer as famílias, por isso cresce o número de imigrantes”, relata Márcia. 
      Segundo ela, os imigrantes são bem acolhidos no Brasil, mas há registros de casos de racismo e xenofobia, manifestações por meio de redes sociais. “Acompanhamos isso de perto. É a manifestação de um minoria, mas entristece. Independentemente de cores ou pátria, somos todos iguais”, ressalta. 
      EXPOSIÇÃO 
   A Cáritas de Londrina foi criada em 1996. Para celebrar a data, e também os 60 anos de Cáritas Brasileira, o Museu Histórico de Londrina apresenta a exposição “Presenças Invisíveis no Norte do Paraná” de 18 de Setembro a 30 de outubro. 
   A organização pede aos visitantes da exposição qje levem 1 quilo de alimento não perecível para ser entregue à Cáritas de Londrina. O Museu fica na Rua Benjamim Constant, 900 (antiga Estação Ferroviária). Mais informações pelo telefone (43) 3323-0082. (W.S.) (WILHAN SANTIN – Especial para a FOLHA, página 2, caderno CIDADES, ACOLHIMENTO, quinta-feira, 15 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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