Páginas

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

TEATRO MÃE DE DEUS


   Naquele momento desafiador, poético e único, a concepção da arquitetura do Complexo Esportivo e Cultural do Colégio Mãe de Deus, iniciou-se em 2000. Foram 16 anos de estudos, projetos, adequações para sua viabilidade financeira e finalmente a sua concretização. Como definir a arquitetura com o seu significado mais amplo, belo e atemporal? A arquitetura tem apenas o significado do abrigo e a garantia da realização funcional com qualidade e competência? Será apenas um processo metodológico de concepção espacial, através puramente de uma visão sistêmica, contemplando o programa físico-funcional, atendendo as técnicas construtivas e sua inserção no meio urbano? O que podemos refletir sobre isso? 
   Paul Valery, filósofo francês (1871/1945), no diálogo que imaginou entre Sócrates e Fredo conversando sobre arquitetura, põe na fala deste último: “... você não reparou nos seus passeios por esta cidade, que dentre os edifícios que a povoam uns são mudos, outros falam e outros ainda, que são mais raros, cantam?”.
   Este é o nosso maior desafio. O obstinado desejo em obter o significado atemporal, retrato do seu tempo e um incansável provocador de emoções. O edifício deve ser convidativo a favor de uma relação informal entre o maior número de pessoas com os espaços públicos e privados, tendo a qualidade espacial e o conforto ambiental com o fim e a tecnologia como meio de obtê-los, e que o edifício se espelhe na cidade e ela o identifique como parte do seu ser. 
   A solenidade de inauguração na manhã da última sexta-feira, 5 de agosto de 2016, nos deixou extremamente sensibilizados. Quando chamado para sua fala, o prefeito de Londrina se dirigiu à escada lateral do palco e ao se dirigir até o microfone, movimentou-se vagarosamente, de forma a olhar, olhar, mas principalmente enxergar ao seu redor a magnitude do espaço em que se introduzia. Suas palavras foram de enaltecer a emoção do lugar. Este depoimento do prefeito londrinense foi sublime. Nos deixou perplexos e com a sensação do dever cumprido. 
   Talvez, a vibração do espaço grandioso, único, simpático, limpo e contando com a força da dramaticidade da luz cênica presente, provocou a interatividade com o meio ambiente de forma harmônica , rítmica e compassada. Estamos falando de música? Não! De arquitetura. Esta, em sua plenitude exala emoções, leveza, sensações, harmonia, proporcionalidade, hierarquia volumétrica..., sendo assim poderíamos chamar arquitetura de arte? Temos certeza que sim!
   A arte, neste caso do teatro, é enaltecer a fantasia, a beleza do canto, a suavidade da música, a leveza da dança ou ainda a dramaticidade da peça teatral, interagindo com o espaço. A arte, por outro lado, também é minimizar a dor, o sofrimento, a angústia do usuário nos espaços fúnebres ou em um pronto-socorro superlotado de um hospital, em que ambos lutam para sobreviver. Qual é o desafio maior? 
   A vida profissional para todos é um eterno desafio. Mas, é exatamente isto que nos faz crescer, nos estimula. Aprender a cada instante. No momento em que percebemos que estamos “prontos”, é a certeza de que estamos “prontos” para começar.
   O Teatro do Colégio Mãe de Deus está concluído. A cidade de Londrina agradece o esforço de todos na obtenção deste espaço de cultura, educação e lazer. Enaltece a sociedade londrinense no engajamento neste processo longo e árduo, para a concretização deste sonho. Registra também a coragem e a perseverança da direção e de mais irmãs do Colégio Mãe de Deus na realização desta obra e, principalmente, o legado que deixa para todos nós londrinenses e demais cidades da região. Esta coragem e ousadia foram decisivas para a conquista de um teatro que agrega tecnologia de ponta e a integra a um espaço de alta flexibilidade de uso em cultura e educação, proporcionando assim, o que podemos considerar um dos teatros mais modernos deste país. Neste momento histórico, abrem-se as cortinas e começa o espetáculo! (NELSON SCHIETTI DE GIACOMO e TALITA DE GIACOMO, arquitetos responsáveis pelo projeto arquitetônico do Teatro Mãe de Deus em Londrina, ESPAÇO ABERTO, página 2, sexta-feira. 12 de agosto de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário