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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

REVERÊNCIA À COMIDA E OUTROS BENS


   O alimento é um bem sagrado e muito nãos o têm com a suficiência necessária. Sabe-se que o vitrinismo de belos e (pela aparência) deliciosos pratos, exibidos sobretudo nas redes sociais, desperta vontades e isto é penoso para tantos. Não há como evitar isto. Mas desperdiçar comida, como se vê nos restaurantes de rodízio e mesmo em nossas casas, é um imperdoável pecado. Sabendo-se que 1 bilhão de pessoas no mundo passam fome crônica, evitar esse desperdício é uma questão de consciência e de reverência.
   Se existe o sistema – que é o ideal - de pesar a comida e pagar segundo o quanto se coloca no prato, chego ao radicalismo de sugerir que sejam proibidos por lei esses rodízios – que estabelecem previamente um preço e assim liberam que o cliente vá permitindo ao garção abarrotar o prato. Os atendentes, embora exercendo seu trabalho, no mais do casos nem deixam o comensal respirar e comer em paz... E a maioria vai aceitando. Ao final, é aquele monte de alimentos frios, que vão sendo deixados de lado. Nem todos os fregueses se valem das sinalizadoras bandeirinhas verde e vermelha. Então, são muito o que deixam no prato um volume maior do que comeu. As crianças veem isso e imitam os adultos. 
   Concluo que, sob certos aspectos, a maioria dos pais preocupa-se mais com o ensino escolar dos filhos do que com o aprendizado de bons comportamentos. Um deles, este o de valorizar o alimento. 
   Como já trabalhei um pouco na roça, na adolescência – o suficiente para aprender – sei quanto custa um cansaço, suor e dor nas costas plantar e obter as dádivas da terra, mesmo hoje com o uso de tecnologias mais avançadas. 
   O desperdício também ocorre no plantio, colheita, armazenamento, transporte e mal acondicionamento dos produtos. Quando vejo filhos constantemente reclamando à mãe que a comida não está boa me ocorre o que os miseráveis passam, pela escassez de comida ou às vezes sem ter nada. 
   Desperdiçar alimento é uma agressão. A família, a escola, a igreja – os três fatores pilares de formação do indivíduo – deveriam dedicar-se também ao ensino mais intenso do respeito à comida e não desperdiçá-la. Porque, se comer, e comer bem, é um direito de todos, nosso senso de respeito, solidariedade e comensalidade é ainda escasso. 
   Se somos tão zelosos com respeito às raças, à sexualidade de cada um, à ideologia de gênero e harmoniosa convivência com nossos coirmãos, devemos cultivar com a mesma tenacidade e reverência estas outras valiosas dádivas da vida: o ambiente em que vivemos, os nossos companheiros animais, as plantas os bens materiais . E sobretudo comida. 
   Se não cultivarmos também estes valores, de pouco valerá o acúmulo de conhecimentos (alguns de baixa utilidade) obtidos pelo tão discutido sistema de educação escolar. (WALMOR MACCARINI, jornalista em Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 11 de agosto de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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