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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

REINVENTAR-SE É PRECISO


   Pequeno produtor de Astorga se arriscou na produção de leite, abacaxi e ovos, mas se encontrou na sericultura
  
 Aos 68 anos, Bento Carmo Bisca é um pequeno produtor paranaense que tem a capacidade de se reinventar. Por nenhum instante ao longo de toda a sua vida na lavoura – “desde que ele se conhece por gente” – pensou em apostar em outra atividade longe da terra. Não que tenha sido fácil: já investiu em leite,, abacaxi, produção de ovos... mas foi na sericultura, com a criação do famigerado bicho-da-seda, que se encontrou e hoje já se tornou referência para a região, com sua propriedade em Astorga. 
   Sua área total com 6,5 alqueires, sendo que três alqueires são dedicados à produção de amora, alimento do bicho-da-seda. Na propriedade, eles trabalham em quaro pessoas. Além de Bento, estão a esposa, um dos três filhos que permaneceu firme na propriedade e a nora. Com muita dedicação, eles conseguem produzir por volta de 780 quilos de casulos, em dois barracões, a cada 25 dias. Toda a produção é entregue à Bratac, única fiação de seda do Estado que sobreviveu ao longo dos anos e que trabalha em parceira com os produtores, oferecendo inclusive, assistência técnica.    Para ele, a maior qualidade do produtor rural de pequeno porte é não desistir frente às adversidades que, por ventura, surjam. No abacaxi, ele teve problemas de contaminação das mudas; com os ovos, o preço do farelo ficou caro demais para alimentar as gs de produção. "Estou com a sericultura há 40 anos e  chegou um momento em que resolvi me dedicar apenas a esse trabalho. Criei meus três filhos dentro do barracão. No começo foi difícil, vendia o almoço para comprar a janta, mas foi o bicho-da-seda que me deu tudo o que tenho hoje.”
   O pedaço de terra deixado pelo pai foi divido entre os irmãos. Mas Bento acabou comprando a parte de todos eles, pois só ele permaneceu firme no negócio. Para sobreviver e prosperar. Ele conta que foi preciso mudar muita coisa ao longo dos anos. O investimento na produção e a tecnificação dos barracões foram peças-chave neste processo. “Antes, 70% da atividade era braçal. Hoje, cortamos a amora com máquinas. Limpamos o barracão com o trator e os casulos são retirados automaticamente. Gastei em torno de R$ 8 mil. Aliás, foi no ano passado que eu e meu filho decidirmos construir o segundo barracão. 
   Outro acontecimento importante foi há cerca de três anos, quando teve início a participação da empresa Bratac juntos aos sericultores da região. A atividade ficou ainda mais intensa, com todo o controle dos levantamentos econômicos, auxílio de técnicos no manejo em uma parceria com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), por meio das Redes de Referência para a Agricultura Familiar. A propriedade da família acabou tornando-se um modelo a ser seguido pelos outros parceiros que estão na atividade. “ Já estava me propondo, inclusive, que façamos alguns dias de campo aqui na propriedade para mostrar o nosso trabalho aos demais, diz o sericultor. 
   Mas não é porque a família já é uma referência, que a vida é fácil e não precisa de trabalho intenso, muito pelo contrário. “Quando os barracões estão cheio de bicho-da-seda estão na quinta idade, às cinco horas da manhã já estamos no barracão. Í vamos até as dez horas da noite tranquilamente. Em propriedade pequena, é preciso vontade de trabalhar e colocar a mão na massa. Investir em soja e milho não dá retorno neste formato.”
   E será que todo esse trabalho dá retorno financeiro adequado? Pela condição econômica da família Bisca, a resposta é positiva. “Se estivesse na cidade, longe da propriedade, não terá uma vida boa assim. Viajo para a praia, para a casa dos meus parentes e o dia que quero comer um frango caipira ou uma leitoa, tenho à disposição. Eu vivo muito bem e com fartura”, se alegra Bisca. 

   NÚMEROS

   A produção brasileira de casulo de bicho-da-seda na safra 2014/15, foi de 2,9 mil toneladas, o Paraná respondeu por 2,4 mil toneladas, o que corresponde a 82,7% do total. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), houve um crescimento de 9% na produção do Paraná no ciclo. No último levantamento estadual, verificou-se a presença da sericultura em 174 municípios, envolvendo cerca de 1,79 mil sericultores em uma área de 3.730 hectares de amoreiras. (VICTOR LOPES – Reportagem Local, página 10, FOLHA RURAL, sábado, 30 de julho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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