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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

MAIS ATENÇÃO AOS JOVENS NEGROS


   Costumamos dizer que os jovens são o futuro do País. Mas se queremos realmente chegar lá, precisamos investir neles, pois é no presente que temos a oportunidade de fazer florescer todo o seu potencial de transformação, criatividade e dinamismo rumo a uma concepção de mundo mais igualitária. Neste momento em que acabamos de realizar a Olimpíada no Brasil, temos a grata satisfação de constatar que – por meio do esporte – muitos negros conseguiram romper a barreira da invisibilidade, da falta de perspectiva e do preconceito. Mas os Pelés, os Joões do Paulo, as Daines dos Santos e as Rafaelas Silva ainda são poucos. Temos capacidade para muito mais. Não podemos nos contentar com o êxito de alguns poucos negros que, infelizmente, ainda representam uma exceção , uma “cota” em nosso país. Não podemos nos resignar à naturalização da desigualdade. O mundo registra a maior população de jovens de toda a história, 1,8 bilhão de pessoas. No Brasil, são mais de 50 milhões de jovens que carregam dentro de si o poder das mudanças para a construção de um País melhor. Por isso, temos a grande responsabilidade, neste momento, de oferecer aos nossos jovens instrumentos que os capacitem a exercer todas as suas habilidades e competências, desviando-os dos caminhos da miséria, do analfabetismo, da violência, das drogas e da morte prematura e assegurando-lhes caminhos seguros de crescimento, formação e ascensão social e profissional. Com essa perspectiva de futuro em nossas mãos, não é aceitável que na história recente do nosso país cerca de 30 mil jovens sejam assassinados por ano e, destes, 77% sejam negros; não é aceitável que cerca de 20% dos jovens não estudem nem trabalhem e, destes, 63% sejam negros e/ou mulheres. Esses índices expõem a dura desigualdade que ainda experimentamos em todos os aspectos da vida social. Temos mecanismos para mudar isso, seja pela educação, pela formação profissional, seja no esporte. Que as vitórias dos nossos atletas negros sirvam de exemplo para a juventude preta, pobre, da periferia e para toda a juventude brasileira, mas que seu sucesso não seja para esconder a infinita desigualdade que ainda precisamos superar. (LUISLINDA VALOIS, secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Justiça e Cidadania, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 25 de agosto de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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