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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

DE AMORES E AMARGURAS


   São poucas as canções ou poesias da mulher dedicadas ao homem, mas abundam as do homem à sua amada. Seria o homem mais sentimental, mais sofrido, mais sensível, mais vulnerável à paixão ou mais submisso diante dela? Ou seria a mulher mais reprimida e cautelosa ao manifestar seus sentimentos? Mistério tão indecifrado ou indecifrável quanto decifrar a própria mulher. Ela expressa arte e beleza nos seus movimentos, na graça de existir e por outras tantas formas, mas rara foi aquela que dedicou uma ode ao homem. É ele que derrama lágrimas por ela nos seus cantares cheios de amor sincero, de paixão ou de amargura, e às vezes com desabafos de rancor. Uma paixão do homem para com a sua amada nunca se extingue. Ele a carrega pelo restante dos seus dias, e se perde a quem idolatra custa a reequilibrar-se e sai então em busca de compensar esse vazio dentro dele. Geralmente com outra mulher que tenha semelhanças com a anterior. O varão cultua em seu inconsciente uma grande paixão no vislumbre de uma mulher, mesmo que ainda não a tenha conhecido, e se borboleteia experimentando sabores aqui e ali como a abelha que beija flor em flor, não é porque seja volúvel mas porque está em busca daquela paixão que adormece em seu eu profundo. E quando a encontra, a ela se entrega inteiro. Uma mulher também se apaixona, mas em caso de perda tem a virtude de recuperar-se em pouco tempo. Certamente a grande mãe cósmica deu-lhe a faculdade da resiliência, que é o dom de retemperar-se e colocar-se em pé, altiva e soberana. O homem mantém a falsa postura de forte, mas tem a consciência de sua fragilidade diante da mulher. Em sua fraqueza, ele manifesta um poder que demonstra ter mas que se anula facilmente diante de um gesto astucioso dela. E a astúcia é um elemento poderoso e infalível que essa privilegiada criatura da alquimia divina traz em seu código genético. Se o homem não a vence, fica às vezes agressivo. A mulher tem a seu favor uma lei de proteção, o homem não tem para si a mesma consideração legal na relação com ela. Disfarça-se de machão, pelo privilégio de sua musculatura viril, mas é o elo fraco da corrente. Ele sabe disso e vive uma farsa de poder; ela sabe disso e vive uma ardilosa farsa de fragilidade e submissão. E assim ambos convivem, em harmoniosos “tapas e beijos”, sem poder desvincular-se do sentimento que une essas duas metades fisicamente distintas e que, por suprema sabedoria, foram dessa forma criada. (WALMOR MACCARINI – jornalista em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 25 de agosto de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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