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quinta-feira, 30 de junho de 2016

PRECONCEITO NA ESCOLA

   NÃO HÁ um único dia em que vários preconceitos, dos mais diversos tipos, não se expressem em ambiente escolar. Aliás, é no mínimo estranho que tenhamos tantas preocupações e campanhas contra o chamado bullying na escola, e pouco ou quase nada contra o preconceito. Afinal, a maior parte dos comportamentos de assédio moral nascem de preconceitos!
   Nesta semana tivemos notícias de dois episódios de preconceito na escola: o da mãe que recebeu um bilhete da professora pedindo para aparar ou prender o cabelo dos filhos – fato ocorrido em nosso país -, e o da garota negra lanchando sozinha ao lado de uma mesa com vários colegas brancos juntos -, este ocorrido na África do Sul.
   Muita gente se indignou, mas muita gente também não viu nada de mais em ambos os casos. Choveram justificativas e até acusações para explicar as situações, o eu sinaliza como é difícil reconhecer nossos preconceitos e, acima de tudo, conter suas manifestações e colaborar para que a convivência social seja mais digna. 
   Por que enviamos nossos filhos para a escola? Hoje, não dá mais para aceitar como uma boa razão apenas o ensino das disciplinas do conhecimento. Isso pode acontecer – e tem acontecido muito – em casa, em pequenos grupos informais, na internet, com tutores, etc. Para preparar para o vestibular? Essa razão é pobre em demasia para motivar o aluno a aprender. Para que nossos filhos garantam um futuro de sucesso? O estudo escolar não oferece mais essa garantia. 
   Deveríamos ter como forte razão para enviar nossos filhos à escola o preparo para a cidadania, ou seja, o ensino dos valores sociais que vão colaborar para a formação de um cidadão de bem. Poucos, porém, têm dado valor a isso, mesmo com fortes motivos para valorizar essa justificativa, já que, se a vida social vai bem, a vida pessoal melhora. Por outro lado, quando a vida social não é saudável, a vida pessoal sofre e adoece. 
   Ensinar a reconhecer os principais preconceitos de nossa sociedade, suas várias formas de manifestação e como combatê-los é fundação das mais importantes da escola. Mas, pelo que temos visto, ela ignora o censo crítico e, dessa maneira, não estimula o respeito às diferenças, tampouco incentiva a solidariedade entre os colegas, nem ensina a boa convivência. 
   A boa convivência exige empatia e generosidade, entre outras virtudes, já que conviver com a diferença é doloroso, e por isso há quem tente anular a diferença com manifestações de preconceito, por exemplo. A convivência também precisa, e muito, da tolerância à frustração, porque conviver significa, quase sempre, ter de ceder, já que o outro sempre nos mostra que cada um de nós é apenas um em meio a tantos outros...
   Os pais podem – e deveriam – influenciar nos rumos da educação escolar. De nada adianta desejar apenas um bom futuro pessoal aos filhos e desconsiderar que eles viverão em sociedade e dependerão dela. Pais e mães, que tal vocês passarem a se preocupar com outras questões da escola que não apenas o conteúdo a ser ensinado, a colocação em rankings etc...?
   Que tal apoiarem as escolas que revolucionaram seu ensino para valorizar o ensino da vida cidadã? Que tal repensarem a função social da escola? (ROSELY SAYÃO, colunista do caderno COTIDIANO, folha B2, espaço coluna ROSELY SAYÃO, terça-feira, 28 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE S. PAULO).

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