Páginas

terça-feira, 24 de maio de 2016

O PORTUGUÊS 'CERTO' E O 'ERRADO'


   Na coluna da última semana, ao tratar do termo “presidenta”, acabei despertando reações variadas entre leitores. Alguns escreveram se dizendo esclarecidos, outros afirmaram achar “estranho” o termo no feminino e houve ainda alguns que não aceitam e acham que o certo é “a presidente” e ponto final. Afinal de contas, como saber que é certo e errado em língua portuguesa?
   Primeiramente, talvez seja uma surpresa para alguns saber que os linguistas e gramáticos não trabalham com essa ideia de certo e errado. Na verdade, quando se trata de língua, falamos em linguagem adequada ou inadequada a cada situação. Parece complicado, mas não é. Quer dizer apenas que, se em determinada situação comunicativa, como um bate-papo por exemplo, você consegue passar sua “mensagem” de maneira satisfatória, sendo bem entendido pelo seu interlocutor, a língua foi bem usada. Sendo assim, não há problema real em cometer um ou outro deslize, se a situação permitir isso. 
   Mas, por favor, leve em conta o ambiente em que você se encontra e com quem você está conversando. Em uma mesa de bar ou em um jogo de futebol com os amigos, você pode soltar um “nós vamo” ou “os cara” que provavelmente não será percebido, mas jamais poderá fazer isso em um ambiente de trabalho, ao passar um relatório para seu chefe, por exemplo. 
   Nesse ponto você deve estar se perguntando: Mas e as regras, a gramática? Elas não são importantes?
   Claro que são, e são, inclusive, absolutamente necessárias em determinadas situações. É a chamada “norma culta” da língua, exigida em ambientes mais formais e no meio escolar (o que inclui concursos e vestibulares). Aí sim podemos falar sobre o português dentro da norma culta, adequado à norma culta ou, simplificando, o português “correto” de acordo com a norma culta. 
   E quem determina o que está de acordo ou não com a norma?
   Depende. Se tratamos da existência ou não de uma palavra (como, no caso, “presidenta”), o correto é recorrer primeiro ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), elaborado pela Academia Brasileira de Letras e disponível para consulta no site da entidade (www.academia.org.br) . É nele que encontramos a grafia “oficial” de todas as palavras de nossa língua. Em segundo lugar, vale consultar um bom dicionário, como os muitos conhecidos Aurélio e Houaiss , por exemplo, Pode acontecer de uma palavra constar desses dicionários e ainda não estar no VOLP, geralmente por ser um termo relativamente novo ou um estrangeirismo. Se você encontrou a palavra que procura nessas fontes, pode ter certeza de que ela existe sim, e pode ser usada sem medo. É o caso do polêmico “presidenta” . Se não encontrar em nenhum deles, é bom verificar a ortografia e, na dúvida, optar por um sinônimo ou outro termo mais comum. 
   Em se tratando das outras regras gramaticais, como concordância ou regência, por exemplo, há muito boas gramáticas que podem esclarecer suas dúvidas, além, é claro, de um professor de português. 
   Vale notar que há muitos casos em que você vai encontrar mais de uma opção para seu texto, todas dentro da norma culta, ou seja, todas “corretas”. É o que afirmamos semana passada a respeito de “presidenta” , que, embora perfeitamente adequada, pode ser substituída pelo substantivo comum de dois gêneros “presidente”, bastando adicionar o artigo ( “a presidente “).
   Quando acontece isso, cada falante acaba escolhendo o termo que lhe parece mais comum, mais fácil ou mais “certo”. Só que isso não desmerece a outra forma, igualmente correta.
   Ainda ficou alguma dúvida? Mande para nosso e-mail!
   Até a próxima terça! ( FLAVIANO LOPES – Professor de Português e Espanho). Encaminhe suas dúvidas e sugestões para bemdito14@gmail.com página 5, caderno FOLHA 2, espaço BEM DITO, terça-feira, 24 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário