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terça-feira, 24 de maio de 2016

MAIS UM ESCÂNDALO


   Em menos de duas semanas no cargo, o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) enfrenta sua primeira grande crise envolvendo justamente um dos homens fortes de sua equipe, o senador Romeu Jucá (PMDB), que se licencia hoje do posto de Ministro do Planejamento. Homem forte porque o político de Roraima foi um dos grandes articuladores do processo de abertura do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e é uma das apostas de Temer na articulação com o Congresso Nacional para aprovação das medidas econômicas que o executivo apresentará na Câmara. A crise envolvendo Jucá foi detonada na edição de ontem da “ Folha de S. Paulo “, que mostra uma gravação em que ele sugere “um pacto” para deter a Operação Lava Jato. O diálogo com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado aconteceu em março deste ano, pouco antes da votação do impeachment na Câmara dos Deputados. Há outros pontos delicados na conversa, gravada de forma oculta pelo próprio Machado, quando Jucá afirma manter “conversas com ministros do Supremo” e quando chama o juiz Sérgio Moro de “uma torre de Londres”, uma referência ao castelo inglês onde ocorriam execuções e torturas nos séculos 15 e 16 para obter confissões de suspeitos. A gravação causou um grande constrangimento no novo governo. As conversas somam pouco mais de uma hora e estão nas mãos da Procuradoria Geral da República (PGR). Há um clima de apreensão em Brasília porque Machado procurou, na época, outros caciques do PMDB e até do PSDB, temendo que as investigações contra ele fossem enviadas de Brasília para a Justiça Federal de Curitiba. O ex-presidente da subsidiária da Petrobras foi citado na delação premiada de Paulo Roberto Costa, na Lava Jato. Jucá também é um dos investigados no esquema do “Petrolão”. As justificativas de Jucá, que tentou se defender em entrevista coletiva, ontem, não convenceram oposicionistas e governistas. O ministro do Planejamento não teve outra saída e à tarde anunciou que vai se licenciar da pasta até que o conteúdo da gravação seja apurado pela Polícia Federal. Ele volta, agora, para o Senado. O episódio envolvendo Jucá e Machado pede uma atitude forte de Temer, sob risco de ver contaminada sua própria imagem e a do Palácio do Planalto. Principalmente porque mesmo antes de assumir a Presidência interina, Temer já enfrentava desconfianças quanto sua postura em relação a Lava Jato. Desconfianças que o fizeram assumir publicamente que não vai interferir na maior investigação contra corrupção da história do País. Compromisso que agora é cobrado pela sociedade. ( FOLHA OPINIÃO opiniao@folhadelondrina.com.br página 2, terça-feira, 24 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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