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segunda-feira, 2 de maio de 2016

'MINEIRINHO' DEFINE QUE CAFÉ O EUROPEU VAI BEBER

           Os melhores cafés têm aspecto           homogêneo, tons azulados ou esverdeados e cheiro adocicado, frutado, cítrico ou caramelizado

   No auge da safra, entre maio e agosto, um classificador chega a provar 350 amostras num único dia

   Guaxupé (MG) – Eles evitam álcool, deixam a feijoada de lado e costumam passar longe de abacaxi. Isto porque Francisco, Carlos César e Felipe são os responsáveis por ajudar a decidir qual o café que você vai tomar e o que será destinado a mercados da Europa e da América do Norte. Os três integram um grupo de 15 profissionais que fazem as análises física e sensorial do café na Cooxupé, maior cooperativa de café do País, em Guaxupé (MG), e têm como função degustar café. Muito café, todos os dias, de todos os tipos e qualidades. 
Para que o paladar não sejam prejudicados, evitam a ingestão de álcool e de alimentos que possam atrapalhar o trabalho. Tudo isso porque, no auge da safra, entre maio e agosto, um classificador de café chega a provar 350 amostras num único dia. Provam, sim, mas não engolem. 
   O trabalho dos avaliadores de café consiste em detectar as características presentes em cada amostra, que são analisadas em “testescegos” – sem que eles saibam a procedência e o tamanho do produtor rural. 
Antes da prova de fogo, o café passa por três etapas. A primeira é a análise da aparência, seguida da torra e da moagem,, até chegar à mesa de degustação. Nela, cada amostra recebe água com temperatura entre 87ºC e fica em repouso por quatro minutos. Quando a água atinge 30ºC, o café é degustado e, em seguida, cuspido em recipientes que se assemelham aos de consultórios odontológicos. “Quando entrei, não tomava café. E há quem não consuma até hoje, só nas provas. Dá para detectar se o café é ruim de imediato. A gente recebe muita coisa boa, mas ruim também, A função é filtrar”, disse Felipe Henrique Alípio Ernesto, 25 anos , há oito anos na classificação de café. 
   Os melhores café têm como características aspecto homogêneo, tons azulados ou esverdeados e cheiro adocicado, frutado, cítrico ou caramelizado. Já os ruins chegam às mesas de provas com aspecto fraco, cor barrenta ou preta e cheiro “podre” (só o cheiro) –ou de remédio, couro, vinagre, iodo e mofo -, além de exibir pedaços de casca ou paus. A Europa recebe as melhores cargas, mais graúdas, utilizadas para o café expresso e que ficam expostas aos consumidores. 
   Já os grãos miúdos, com mais defeitos, são destinados à moagem e vendidos principalmente para os EUA. A Alemanha também compra, para misturar com outros tipos e vender a países do leste europeu. No total, os embarques seguem para 40 países.
   Segundo o gerente de classificação Carlos César Gomes, 54, que prova café há 33 anos, os de pior qualidade são enviados a países como a Rússia e ficam no mercado interno. “Mas, como se trata de café de qualidade, mesmo os que não atingem os patamares mais altos são bons.” A explicação está no bolso: enquanto um café classificado como ruim custaria de R$ 9 a R$ 10 o quilo, os melhores são comercializados a R$ 25 no mercado interno, preço considerado alto. 

   SÓ DE OLHAR

   Segundo o gerente de controle de qualidade Francisco Donizete da Cruz, 53, há 35 anos na cooperativa, só de olhar para o café o classificador sabe se foi colhido de máquina ou se caiu no chão. “O café está ligado ao tipo de solo, altitude, variedade da planta, trato, pós-colheita e torra. E pode ter atributos positivos ou negativos em todos os pontos, que refletem no consumidor”, diz.
   Entre uma série de provas e outra, os degustadores ingerem água com gás, maçã e bolacha água e sal, para limpar o paladar. Com 12,4 mil produtores associados. A Cooxupé é a maior exportadora de café arábica do País, com 4,2 milhões de sacas de 60 quilos de janeiro a novembro, 13,1% do total estimado para o País neste ano, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção brasileira deve atingir 32,05 milhões. 
   Segundo Ernesto, o mais novo dos classificadores, a responsabilidade da função é grande por envolver a vida do cafeicultor. “Ele passa o ano todo investindo numa coisa que cai em minhas mãos para classificar. Uma degustação errada pode impactar até R$ 50 a saca (10% do valor total)”, disse ele, para quem, “café bom não precisa de açúcar”. ( MARCELO TOLEDO – Folhapress, página 3, FOLHA RURAL, sábado, 30 de Abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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