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sábado, 30 de abril de 2016

O PÉ DE MULUNGU


   Faz  mais de 20 anos que alguns pés de mulungu insistiram em enfeitar a entrada do campus da Universidade Estadual de Londrina, perto do letreiro que identifica aquela instituição. Foi isso que me levou, tempos atrás, a procurar o seu João Sperandio, que na época era o encarregado do serviço de jardinagem do Campus Universitário. Seu João, sua equipe de jardineiros e outros que os sucederam são os responsáveis pelo encanto daquele lugar, um dos mais bonitos de Londrina, onde plantaram milhares de árvores. 
   Ele me indicou fazer mudas por estacas e cortou alguns galhos da árvore para que eu plantasse. Mas as estacas não vingaram, talvez pela época inadequada de plantio ou devido à influência da lua, pois se sabe que as fases lunares atuam sobre os ciclos de reprodução e desenvolvimento das plantas. Assim, continuei tocando a vida, realizando meus projetos e sempre que via algum mulungu em fase de floração, voltava a intenção de plantá-lo. 
   Você já viu a beleza que é um pé de mulungu? Não? O mulungu (erytrina speciosa) é uma espécie nativa da Mata Atlântica, que se reproduz com facilidade em lugares úmidos, brejos e beiras de rios. Também é conhecido como candelabro, corticeira, suiña vermelho, devido à forte tonalidade dessa cor nas suas flores, o que a torna atrativa aos sanhaços , maritacas, saís e cambacicas, mas especialmente aos beija-flores. 
   Muito tempo passou, até o dia em que fui convidado a almoçar no sítio do seu Hélio Corrente, na localidade de Lerroville, um dos distritos de Londrina. Sitio bem cuidado, bonito lugar, bambuzal, mina d’água, lagoa, marrecos, lambaris... E, pra minha sorte, um pé de mulungu ao lado da cerca, bem na divisa da propriedade. 
   Não tive dúvidas, levei pra casa um pequeno galho, não sem antes pedir permissão ao dono da casa. Logo que voltei, finquei o galho no jardim em frente de casa e comecei a regá-lo diariamente. Depois de alguns dias observei que uma raminha brotou no pedaço de toco,  que enxertou a esperança no meu coração. Nos meses que se seguiram foi se formando uma bela árvore, cujo crescimento eu acompanhava atento, dia após dia. 
   Já no segundo ano do plantio, o pé de mulungu mostrou toda sua formosura, enchendo-se de candelabros e criando um maravilhoso espetáculo carmesim. Logo começaram a chegar os passarinhos; primeiro vieram os cambacicas e em seguida os beija-flores. 
   No meio do ano, quando o inverno vai terminando, começa a revoada dos passarinhos e não me canso de admirar beija-flores de vários tamanhos e cores, num frenético vai-e-vem em busca de néctar. Sem desmerecer as acrobacias dos cambacicas, que muitas vezes ficam de cabeça para baixo para poder se alimentar. Nesses momentos faço um singelo agradecimento à natureza, ao seu João e seu Hélio, que muito contribuíram para que esta história tivesse um final colorido. (GERSON ANTONIO MELATTI, leitor da FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado, 30 de abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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