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terça-feira, 15 de março de 2016

TU OU VOCÊ?


   Na coluna da semana passada, ao tratar do uso dos tempos verbais, mencionamos que muitas vezes é usada uma forma verbal correta, mas associada à pessoa gramatical errada. Essa confusão acontece, principalmente, com relação ao uso de TU e VOCÊ. Vamos, então, tentar esclarecer um pouco essa questão.
   O pronome TU é muito antigo, fazendo parte da língua portuguesa praticamente desde sua origem. Em Portugal, aliás, é muito usado até hoje, como forma de tratamento informal, ou seja, quando há um certo grau de intimidade com a pessoa. Já no Brasil, embora tenha perdido muito espaço para o VOCÊ, continua senso utilizado em muitas regiões, principalmente no Sul e Nordeste do País (embora seja possível também encontrá-lo em outros lugares). Assim, é como ouvir frases como: “Tu não sabe de algo”, “Tu fez o que devia” ou “Tu vai a algum lugar”, quando as formas mais adequadas seriam “sabes”, “fizeste”, “devias” e “vais”. Isso não é um problema generalizado, pois há muitos lugares onde os verbos são devidamente conjugados. 
   VOCÊ vem do pronome de tratamento VOSSA MERCÊ, que tem uma origem nobre, pois quando surgiu, ainda bem antes do descobrimento do Brasil, era usado exclusivamente para os reis de Portugal. Posteriormente, quando os reis passaram a ser chamados de “alteza”, o tratamento passou a ser de uso dos nobres e só depois de mais de um tempo é que chegou ao povo em geral. Além disso, com o passar dos séculos, o pronome foi evoluindo, passando de VOSSA MERCÊ para VOSSEMECÊ, VOSMECÊ, VANCÊ e, finalmente, VOCÊ. 
   Agora no Brasil, é largamente utilizado cono tratamento informal, substituindo o TU na maior parte do País, enquanto que, em muitas regiões de Portugal, é uma forma respeitosa de se dirigir a alguém , equivalente ao nosso SENHOR ou SENHORA. 
   Diferentemente do que acontece com TU, as pessoas geralmente não erram a conjugação verbal com VOCÊ, com exceção do imperativo, como vimos na coluna da semana passada. O maior problema aqui é com outro tipo de concordância, a que envolve outros pronomes, principalmente os possessivos e os pessoas oblíquos. No primeiro caso, o que “combina” com VOCÊ , são os pronomes SEU, SUA, SEUS, SUAS, e não TEU, TUA, TEUS, TUAS, como muita gente usa. O mesmo acontece com os pronomes pessoais do caso oblíquo, pois é muito comum ouvir o TE, sendo usado junto com VOCÊ.
   Então, tome cuidado, se você não costuma chamar ninguém de TU, não deve usar frases como “Fui à TUA casa ontem” ou “Vou TE pedir um favor”. O mais correto seria usar SUA e LHE, nesses casos. Se o pronome oblíquo for objeto direto, as formas mais adequadas são O e A ( em vez de “Eu Te amo”, “Eu o amo”, “Eu A amo” ou, simplesmente, “Eu amo VOCÊ”). Isso tudo também vale para as formas de tratamento SENHOR e SENHORA, já que também fazem a concordância com a terceira pessoa. 
   É importante lembrar que todas essas regras se referem ao nível formal da língua, baseado na forma culta. Na linguagem informal, usada no dia a dia, não é um pecado tão grande usar esta ou aquela forma, se isso é comum na fala de sua região. O fundamental é que você saiba diferenciar uma situação de outra, adequando seu “jeito” de falar ou escrever, de acordo com a necessidade do momento. 
   Ficou com alguma dúvida? Mande para nosso e-mail . Até a próxima terça! (FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS E ESPANHOL. Encaminhe suas dúvida e sugestões para bemdito14@gmail.com página 5, caderno FOLHA 2, espaço BEM DITO, terça-feira, 15 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).  

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