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segunda-feira, 28 de março de 2016

O PREÇO DE UMA GESTÃO TEMERÁRIA



   As crises, à medida que não têm respostas positivas das políticas públicas e da gestão da economia, retroalimentam-se a cada dado negativo, num inevitável efeito dominó psicológico na população e nos setores produtivos. Exemplo disso foi o reflexo da divulgação da queda do PIB em 2015, de 3,8%. O impacto foi imediato nos desempregos, nos resultados da indústria e do comércio, nas compras de final de ano e até no carnaval: menos viagens, destinos mais baratos e freio no consumo. 
   Deve-se registrar que a presente crise atingiu majoritariamente aqueles que tiveram melhoria significativa na qualidade de vida a partir do Plano Real, principalmente as classes C e D, que passaram a consumir, incluindo viagens, artigos de toucador, cirurgia plástica, academias e outros itens de beleza e saúde. As ações do governo, nos últimos 20 anos que se seguiram ao Plano Real, até 2014, foram importantes. Observou-se crescimento no mercado interno das indústrias, comércio e serviços, mesmo com a forma assistencialista de redistribuição de renda do Bolsa Família, que demonstrou ser eficiente ao dar às pessoas de baixa renda uma esperança de melhores dias. Há, ainda, o financiamento da educação, bolsas de estudo e incentivos à compra da casa própria, dentre outros fatores de inclusão socioeconômica. 
   Os problemas brasileiros manifestaram-se, paulatinamente, a partir de 2008, quando eclodiu a grande crise mundial nascida no crash imobiliário norte-americano. Em nosso país, as autoridades diziam que era “apenas uma marolinha”. Agora, contudo, o mundo está se recuperando, mas o Brasil afunda numa grave retração econômica. Infelizmente, não se soube gerir os recursos e a política econômica no contexto da conjuntura global. Assistencialismo sem controle, desvios das finalidades dos recursos orçamentários, ocultação dos números da economia e uso de estatais, como a Petrobras, para reter a inflação, castigando o caixa da companhia. O governo gastou muito mais do que arrecada e gerou um enorme deficit fiscal. Como se não bastasse, os casos de corrupção são apurados na Operação Lava Jato minaram a confiança na economia nacional. 
   A falta de transparência, ausência de compliance e a gestão temerária da economia aprofundam a crise. O que se percebe nessa situação é que os juros começaram a aumentar por conta do crescimento da inflação. Porém, nem mesmo a Selic em 14,25% ao ano não contém os índice inflacionários. Não se observa a possibilidade de chegar a 4,5% ao ano, com viés de 2% em 2016. A baixa credibilidade provocou o rebaixamento das notas de crédito do País, dificultando e encarecendo os financiamentos externos. 
   Como o cenário é de redução do PIB, o efeito em cascata manifesta-se no desemprego, queda na arrecadação tributária e problemas para gerir uma máquina administrativa inchada e onerosa demais para a sociedade. O mais grave é que ainda se busca o equilíbrio fiscal por meio de aumento de tributos e não da redução de suas despesas. É uma imensa contradição. Se a União insistir em continuar aumentando impostos, a recuperação da economia poderá demorar muito tempo. A falta de dinheiro do governo federal para investimentos é nítida e, pasmem, já atinge a própria Casa da Moeda. Dados os custos da impressão e do papel, estuda-se uma forma de ampliar o uso de cartões. 
   Devido à falta de recursos, mesmo com a volta da CPMF defendida pelo governo, a situação fiscal é cada vez pior. A busca agora é pela venda de ativos, concessões e até uso do dinheiro do FGTS para aquecer o mercado, inclusive o mobiliário. A recuperação da economia brasileira dependerá de uma ação conjunta e da exemplar punição pelos desvios de finalidade no orçamento da União, para resgatar a confiança da população nas instituições. Também é fundamental, além das prisões de empresários e agente públicos, que a Operação Lava Jato consiga recuperar e repatriar todo o dinheiro roubado do povo. O preço de uma gestão temerária é muito alto para o país, em especial para as camadas populacionais de mais baixa renda. Estamos jogando na lata de lixo da história a grande oportunidade de desenvolvimento criada pelo Plano Real. ( REGINALDO GONÇALVES, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina em São Paulo, página 2, ESPAÇO ABERTO, domingo, 27 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).  

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