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terça-feira, 29 de março de 2016

O AMOR É MINHA BIOGRAFIA


   Dias atrás li pela manhã um verso de Murilo Mendes: “O amor é minha biografia”. Sei que, do ponto de vista literário, a frase não passa de um minúsculo fragmento na vasta obra do poeta mineiro; mesmo assim eu me afeiçoei a essas palavras tão simples e tão puras, a ponto de repeti-las sempre que posso. 
   Quis a providência que a missa de sétimo dia da Dra. Édina de Paula caísse exatamente no Domingo de Páscoa. A cerimônia foi celebrada na e bela Paróquia de Sant’Ana, que leva o nome da avó de Jesus. A igreja estava cheia de gente. Emocionaram-me as palavras do padre Manoel Joaquim e da promotora Susana de Lacerda, grande amiga de Édina. Se fosse preciso definir a procuradora de Justiça, falecida com apenas 56 anos, no auge da vida, eu usaria o verso de Murilo Mendes. O amor foi a sua biografia, Dra. Édina.
   O médico Luiz Carlos Miguita contou-me que Édina o procurou pouco antes de dar entrada à cirurgia (que seria a última) e disse a ele: “Há momentos em que não podemos morrer”. Talvez seja verdade, Dra. Édina. Pessoas como você jamais podem morrer sem causar uma grande tristeza e uma inestimável falta. Mas todo dia é dia de ressuscitar. Deus não estava precisando de sua vida. Estava precisando de sua ressurreição.
   Eis que abro o jornal na segunda-feira e leio a reportagem de capa, assinada pelo colega Celso Felizardo (um jornalista cujo sobrenome é perfeito para definir não ele, mas os seus leitores na Folha). Na página interna, ao lado da coluna Avenida Paraná, há uma foto e um breve perfil do médico cancerologista Antônio Amarante Neto. 
   Dr. Amarante – cujo nome significa “aquele que merece” – é um herói da minha vida. Em 1995, no Hospital do Câncer de Londrina, ele realizou uma operação de mastectomia em minha mãe, Aracy Briguet. Graças a ele, minha mãe pôde viver mais 16 anos com alegria e entusiasmo. Viveu para conhecer os dois amados netinhos, Liz e Pedro. Não há dinheiro nem gratidão que paguem essa dívida. 
   Ouso dizer que a cirurgia foi apenas mais um componente no renascimento de Aracy. O mais importante, acredito eu, foi a confiança, foi a calma, foi a tranquilidade, foi o realismo esperançoso que minha mãe encontrou em cada uma das palavras de seu médico, ao longo dos vários anos de tratamento e acompanhamento da doença. O mais importante foi a gentileza e atenção dos funcionários do Hospital do Câncer. O mais importante foi ver a vó Maria sentadinha no quarto do hospital, fazendo as suas orações. 
   É preciso ter uma grande coragem e um indefinível amor ao próximo para ser um bom médico, especialmente quando se fala em câncer. Certamente não por acaso, a foto de Antônio Amarante publicada ontem na Folha em ao fundo uma imagem da face de Jesus Cristo, aquele que teve a maior coragem e o maior amor de todos os tempos. Também não por coincidência, Murilo Mendes era um poeta convertido ao cristianismo. O amor é nossa biografia ( Fale com o colunista, avenidaparana@folhadelondrina.com.br página 3, caderno FOLHA CIDADES, coluna AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet, terça-feira, 29 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Um comentário:

  1. Lindo texto, dr. Amarantes, O amor também é a sua biografia, Neste quase 30 anos, como voluntária do HCL, só vejo, sinto e aprendo o amor, e o senhor é também um médico que tem em sua alma grandiosa o amor. Deus te abençoe sempre! Nina.

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