Páginas

quinta-feira, 10 de março de 2016

EU SOBREVIVI AO PT


         A "Conversão de São Paulo " (1601), de          Michelangelo da Caravaggio

   Nos últimos 30 anos, a tragédia brasileira pode ser resumida em duas letrinhas: PT. Eu estive no PT e sobrevivi a ele. Espero que o Brasil também sobreviva. 
   Pouco tempo atrás, disse um querido amigo da universidade: “Paulo, nós somos sobreviventes”. Hoje meu amigo é um profissional realizado e um pai de família amoroso, mas há 20 anos eu e ele éramos seres revoltados contra a estrutura da realidade e mergulhados na angústia. Sobrevivemos para contar a história – e é isso que tentamos fazer todos os dias, com nosso trabalho e nossa vida familiar. 
   Nós sobrevivemos à mentira política e à mentalidade revolucionária. Votamos no PT e fizemos campanha com estrelinha no peito. Até descobrir o grande golpe em que estávamos envolvidos, colaboramos para reforçar o mito de que petistas são seres inimputáveis, farsa que até hoje pessoas da minha geração levam a sério.
   Filhos da ditadura, nós sobrevivemos a uma visão distorcida dos valores de liberdade fraternidade e igualdade. Acreditávamos que a liberdade era uma licença irrestrita até mesmo para a autodestruição: que a fraternidade era defender um ideal coletivo e desconsiderar os indivíduos; que a igualdade não era de oportunidades, mas de resultados. Enfim, nós acreditávamos em Revolução Francesa; e isso nada mais é do que acreditar na guilhotina. 
   Sobrevivemos ao hedonismo e à convicção de que nada poderia nos aniquilar. Com isso, mergulhamos fundo no lamaçal do vício e da degeneração psicológica. Até hoje, quando vejo viciados e bêbados caídos na rua, penso que esse poderia ter sido o nosso destino. Personagens suicidas e desesperados eram nosso modelo de conduta. 
   Por nos julgarmos livres e especiais, ferimos sem dó muitas pessoas que se colocaram em nosso caminho. A elas eu peço perdão até hoje, mais de 20 anos depois. O estrago que um só egoísta pode causar em volta é incalculável. E pior: é possível agir com total egoísmo acreditando-se muito solidário, sensível e honesto. 
   Sobrevivemos, enfim, a um dos piores tipos de fanatismo religioso: o fanatismo ateu. Enxergávamos o mundo com uma estrutura impessoal e o indivíduo humano como uma máquina desprovida de alma. A verdade, para grande parte da minha geração, era um conceito relativo. Isso nos afastou das grandes tradições religiosas e culturais, guardiãs dos valores que mantém viva a civilização. 
   Na condição de sobrevivente, vejo, com muita preocupação, que a sociedade brasileira percorre hoje o caminho que quase nos levou à morte. Setenta mil assassinatos por ano, instituições aparelhadas, economia destruída, sistema de educação falido, saúde caótica, desemprego em massa, tráfico de drogas, aborto e ideologia de gênero: temos todos os elementos de um país dominado pelo Mal. Tudo aquilo que quase destruiu tanta gente da mina geração hoje está acabando com o país inteiro. Só Deus pode nos salvar: mas Ele precisa de nossa colaboração. (FONTE: Fale com o colunista: avenidaparaa@folhadelondrina.com.br página 3, caderno FOLHA CIDADES, coluna AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet, quinta-feira, 10 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário