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segunda-feira, 14 de março de 2016

BRAVA GENTE LONDRINENSE



   Às vezes acho que as coisas mais importantes da vida, alegres ou tristes, acontecem no domingo. A Ressurreição, por exemplo. 
   Na manhã de ontem, pensei que seria maravilhoso se 50 mil londrinenses fossem à manifestação contra o PT. Mas eu estava sendo muito pessimista. No final da tarde, as estimativas oscilavam entre 72 mil e 90 mil pessoas nas ruas da cidade. Isso quer dizer que tivemos não só a maior manifestação de rua da história de Londrina como também, em termos proporcionais, o maior protesto de 13 de março em todo o Brasil. Mais uma vez, o povo londrinense deu uma lição de coragem e civismo. 
   Durante todo o percurso, do Colégio Vicente Rijo até a Praça da Bandeira, o clima foi de paz, congraçamento e alegria. Só mesmo a mão de Deus – e a mãe de Deus – para explicar que o deslocamento de uma tal multidão ocorra sem um só incidente, um só empurrão, uma só vidraça quebrada, um só momento de tensão. 
   Sim, as pessoas estão indignadas com a corrupção e a impunidade, não apenas no PT, mas em qualquer legenda partidária. As pessoas gritam “Fora PT, leve a Dilma com você” e “Somos todos Sérgio Moro”, mas o fazem sem ódio ou ressentimento. Querem apenas reconstruir o que foi devastados pelos atuais ocupantes do poder. Querem um país melhor para seus filhos e netos. Querem trabalhar e ser felizes. É pedir demais? É pedir o impossível? É pedir algum absurdo? 
   Em algum momento, vi crianças se refrescando no chafariz da Avenida Paraná, onde antigamente havia o coreto. Pois foi exatamente ali que eu assisti a um comício do então candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva em 1989. Eu pensava nessa triste cena quando percebi que a passeata de ontem não foi feita só pelos cidadãos do presente. Dela também participaram os habitantes do passado e os habitantes do futuro: aqueles que construíram Londrina e o Norte do Paraná, bem como aqueles que são muito pequenos ou ainda nem nasceram para protestar conosco. 
   Por um momento, fechei os olhos no meio da multidão e pensei em Dr. Hosken, Willie Davids, David Dequêch, Délio César, Madre Leônia, Dom Geraldo, Irmã Norberta Zaqueu de Melo, Álvaro Godoy. Mané jacinto, George Graig Smith, Eugênio Brugin, Afonso Haikal – e até naquele caboclo que vivia no meio da floresta depois de vinte malárias. 
   Ontem, meus amigos, vocês foram dignos de todos eles. Brava é a gente londrinense. ( FONTE: Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br página 5, caderno FOLHA CIDADES, espaço coluna AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet, segunda-feira, 14 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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