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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

RUÍDOS DE BIOMBOS E CONVERSAS SÃO VILÕES


     Especialista defende a importância de se elaborar projetos hospitalares pensando na humanização dos ambientes


   Medições em UTIs para mensurar o nível sonoro mostram que os ruídos estão acima das recomendações das normas acústicas brasileiras

   O pesquisador na área de acústica, José Augusto Mannis, explica que das informações obtidas para o artigo científico pode afirmar que os ruídos que os pacientes mais reclamam no ambiente hospitalar são o arrastar do biombo, das cadeiras e do carrinho de eletrocardiograma. 
   Porém, ele ressalta que a questão do ruído também é um problema comportamental, pois muitas queixas são sobre as conversas da equipe hospitalar. “E o tom de voz que adotam na UTI não é baixo. É claro que também a própria equipe sofre com isso, mas acaba infelizmente se acostumando com esse ambiente nocivo”, completa. 
   Para os dados, Mannis reuniu artigos de hospitais no Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro e fez pesquisa de campo. “Por meio de gravações, fiz medições em várias UTIs para mensurar o nível sonoro. Descobri que em geral os ruídos estão acima das recomendações das normas acústicas brasileiras”, afirma, fazendo referência à NBR 10.152.
   A norma descreve que em hospitais, abarcando enfermarias, berçários, centros cirúrgicos e apartamentos, os níveis máximos de pressão sonora não devem passar de 35 a 55 dB(A) correspondendo às curvas NC30 eNC50.
   Ainda de acordo com o pesquisador, as piores situações foram registradas em UTIs neonatal. Em uma das gravações, ele comenta que o nível de ruído ultrapassa 100 dB.
   Após a publicação do artigo, Mannis conversou as equipes de diversos hospitais. “Todos são conscientes do problema, mas poucos sabem como encaminhar para uma solução, até porque há algumas dificuldades”, aponta. 
   Segundo ele, as implementações têm um custo que a maioria dos hospitais não consegue investir. “Basicamente, seria a substituição de alguns materiais e a mudança da concepção dos projetos arquitetônicos dos ambientes. Algumas instituições já investiram em leitos isolados e isso é uma tendência”, cita. 

   ARQUITETURA AMBIENTAL 

   Mannis entende que a disposição das UTIs não é favorável à contenção de ruídos, pois em geral a distância do entre o posto do corpo clínico e o leito final é grande. “Com isso, os alertas dos aparelhos ficam em um nível alto”, justifica. 
   Nesse sentido, o conceito de arquitetura ambiental se destaca, pois prioriza os aspectos naturais como iluminação, ventilação, insolação, ausência de ruídos, além da eficiência energética e materiais ambientalmente corretos. 
   A arquiteta e urbanista, docente da disciplina de “Conforto Ambiental”, da UEL, Ana Virgínia Carvalhaes de Faria Sampaio, abordou em sua tese de doutorado, defendida na FAUUSP, a importância de se ter preocupação com os aspectos ambientais da sustentabilidade nos projetos hospitalares e de se projetar ambientes sempre considerando seus usuários. 
   “Na elaboração de projetos hospitalares é preciso pensar na humanização dos ambientes, isto é, tornar os locais mais agradáveis e confortáveis para pacientes, familiares e equipes”, diz. 
   Para ela, uma janela com visualização do exterior, do céu ou mesmo uma paisagem, assim como perceber as mudanças do tempo (meteorológico e cronológico) são estímulos positivos para a recuperação de um paciente internado na UTI. 
   “Uma pintura no teto do leito, um painel com uma vista bonita e relaxante, uma fonte com o som da água caindo, podem fazer diferença na recuperação, mesmo de um paciente em coma”, sustenta.

   MÚSICA COMO FONTE DE BEM-ESTAR

   Os efeitos da música sobre nosso corpo tem sido alvo de muitos estudos. Isso porque já se sabe que quando ela proporciona bem-estar, ajuda no relaxamento, desacelerando o ritmo cardíaco.
   “A música libera além da serotonina, que é um transmissor neurológico importante, a endorfina, uma substância também relacionada ao prazer, satisfação e que eleva o humor das pessoas”, detalha o cardiologista em Londrina Walace Kohata de Aquino.
   Ele cita um estudo realizado na Universidade de Maryland (EUA), sobre a influência da música no estado cardiovascular. Para a coleta de dados, grupos de pessoas tiveram o fluxo sanguíneo avaliado quando submetidos a uma música que apreciavam, assim como diante de músicas que causavam um desconforto, um certo grau de estresse. 
   “Os resultados mostram que um efeito sonoro ruim, isto é, que não causa satisfação, aumenta a pressão e a frequência cardíaca. Por outro lado, quando se coloca uma música de relaxamento o pulso diminui e a pressão cai, apontando uma vasodilatação , ou seja, um efeito benéfico para o organismo”, ressalta. 
   Sendo assim, em contraponto com os ruídos nos ambientes hospitalares, os sons de água, natureza e músicas agradáveis trazem tranquilidade e ajudam a dormir. “Uma saída simples, e que pode ajudar bastante. A música sempre traz um componente positivo”, conclui. (M.O.) (MICAELA ORIKASA - Reportagem Local, página 10, FOLHA SAÚDE, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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