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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

QUANDO A SAÚDE PEDE CONFORTO ACÚSTICO


     Dentro de um hospital qualquer ruído será prejudicial, pois para situações de mal-estar o cérebro desencadeia liberação maior de noradrenalina

   Pesquisador analisa a influência dos ruídos em ambientes hospitalares, especialmente UTIs, no processo de recuperação dos pacientes. 

   Quem já passou por uma internação hospitalar, especialmente em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sabe o quanto o ambiente é carregado de sofrimento físico e psíquico.
   E esse clima pode ser acentuado se considerarmos alguns fatores ambientais, relacionados por exemplo, ao desconforto acústico e visual. Esse foi o foco de um artigo publicado por José Augusto Mannis, docente e pesquisador de música, no campo da Acústica e Ciência da Informação aplicada à música, da Unicamp. 
   Foi a partir da própria experiência que Mannis passou a considerar a influência dos ruídos no ambiente hospitalar no processo de recuperação dos pacientes. “Há cerca de oito anos, fiquei internado e não conseguia dormir, pois a cada meia hora havia uma intervenção da equipe de enfermagem ou mesmo necessidades de pacientes. Isso provocava um ruído intenso durante o dia e a noite inteira”, lembra. 
   Com a falta de sono, que tem a propriedade de restabelecer o organismo, Mannis diz que a resposta ao tratamento não estava tendo o resultado esperado. “Consciente da importância de relaxar, passei então a buscar medidas com a meditação”, diz. 
   A designer gráfico Kendra Rubio da Silva, de 25 anos, também compartilha da mesma experiência. Após sofrer um acidente de carro ficou 23 dias na UTI, foi induzida ao coma por 72 horas e fez uso de fortes medicamentos. 
   “Ao acordar, tinha perdido a memória recente e não fazia ideia do que tinha ocorrido. Hoje, me recordo apenas dos sons estridentes e repetitivos, combinados com a intensa e constante luz branca. Isso me deixou bastante descontrolada e tive muitas alucinações”, revela.
   A jovem ainda conta que os ruídos faziam com que se preocupasse não com si própria, mas com o que acontecia ao seu redor. “Nos primeiros dias, me debatia na cama e acabei até me machucando, porque através dos sons, eu tentava identificar o que estava acontecendo em minha volta. O ambiente já era estressante e eu não conseguia dormir”, diz. 
   Segundo Mannis, todo ruído, ou seja, qualquer coisa que interfira no objetivo em que o indivíduo está concentrando a consciência tem um reflexo dentro do equilíbrio interno do corpo. 
   “Diante do ruído, o corpo se vê diante de uma situação atípica e tenta se proteger. Ele não entende o que a consciência está dizendo e faz a leitura de que o sistema é hostil. E só para atender esta necessidade externa, já há um gasto de energia”, completa. 
   O cardiologista do InCor Londrina, Walace Kohata de Aquino, acrescenta que em um ambiente hospitalar, qualquer ruído será prejudicial. “Pois tudo o que ocasiona um mal-estar, o cérebro desencadeia uma liberação maior de noradrenalina, o que aumenta a frequência cardíaca. Além disso, a situação de estresse diminui nossa resposta imunológica”, afirma. 
   Ainda no artigo “Conforto acústico para a humanização das Unidades de Terapia Intensiva e demais ambientes hospitalares”, Mannis cita, entre autores pesquisados, que “o conjunto de fatores estressantes pode implicar no aumento de ansiedade e da percepção dolorosa, diminuição do sono e aumento das frequências cardíacas e respiratórias, alteração da pressão arterial e da função intestinal, dilatação das pupilas e aumento do tônus muscular”. (MICAELA ORIKASA – Reportagem Local, FOLHA SAÚDE, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 
José Augusto Mannis

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