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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

LULA E O APOIO QUE CUSTA MILHÕES


   O cenário já está desenhado, com imagem e som. O ex-presidente Lula e sua esposa Marísia Letícia chegam para depor no Fórum Criminal de Barra Funda, na capital paulista, sob aplausos de centenas, quiçá milhares de manifestantes. Nas faixas e nos gritos, a defesa ardente do líder político, do seu legado e de sua história, e o ataque ainda mais ardente aos “golpistas”.
   O delírio da multidão comoverá o líder e o partido. Vai virar notícia. Vão dizer que é uma expressão clara de que o povo escolheu ser fiel ao petista, mesmo diante de uma saraivada de denúncias que o envolvem diretamente em transações suspeitas com uma empreiteira acusada de subornar diretores da Petrobras, em outra farra com o dinheiro do povo. 
   Nada mais artificial. O momento é de forte rejeição ao PT: apenas 9% dos brasileiros (pesquisa Ibope/CNI de dezembro) consideram o governo “bom ou ótimo”, contra 68% que o avaliam como “ruim ou péssimo”.
   Enquanto Lula e a ex-primeira-dama se esforçarão em dissuadir o Ministério Público das suas suspeitas em relação ao tríplex no Guarujá (SP), representantes de 60 entidades – conhecidas como “movimentos sociais” – tentarão ganhar o jogo no grito com o slogan #Lulaeuconfio.
   A princípio, tudo parece legítimo. Desde que civilizada e pacífica, o barulho da militância não fere o estado democrático de direito. Ao contrário, atesta sua própria sanidade. À gritaria petista, no entanto, faltará autenticidade. E é aí que reside o problema. 
   O apoio ao líder governista, acuado pelos órgãos de controle da República, é calcado na abjeta prática do “toma lá, dá cá” e do uso da máquina governamental para a compra de aliados, uma reprodução em larga escala do expediente usado no Parlamento durante a Era Mensalão. 
   Foi com o dinheiro do povo que Lula formou sua base de sustentação nas ruas, reserva estratégica na opinião pública, desapontada por uma administração corrupta e incompetente. 
   Compõe-se este verdadeiro exército de mercenários, pago com nossos impostos, todos os braços do petismo: a CUT, o MST e a UNE, só para listar os mais importantes. 
   Não é só dívida de gratidão ou ideologia que movem estas organizações. A mistura dos interesses públicos e partidários que marca a passagem do PT no poder resultou em repasses milionários sem critério e fiscalização, via ministérios, BNDES e outras estatais, inclusive a Petrobras. 
   Em 2008, o Lula sancionou a Lei nº 11.648, que concedeu às centrais sindicais uma participação de 10% no bolo arrecadado pela Contribuição Sindical, cobrada no holerite dos trabalhadores. A fatia retirou metade dos recursos que seria usado pelo Ministério do Trabalho para programas de capacitação profissional. Desde então, a Central Única dos Trabalhadores abocanhou uma soma considerável desse mimo, um montante de cerca de R$ 340 milhões os últimos oito anos, de acordo com a reportagem de O Estado de S. Paulo. 
   Já o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conforme levantamento feito pela ong Contas Abertas, recebeu cerca de R$ 160 milhões entre 2003 e 2010. A soma foi repassada através de convênios do Ministério do Desenvolvimento e do Incra para 43 entidades ligadas ao sem terra. 
   A União Nacional dos Estudantes (UNE) e outra beneficiária da “generosidade” do governo petista. Entre 2003 e 2012, a organização recebeu em torno de R$ 57 milhões em verbas públicas. Boa parte do valor – R$ 44 milhões - refere-se a uma indenização da União por conta da destruição da sede da entidade nos primeiros dias do governo militar em 1964. 
   Não é surpreendente que toda esta máquina azeitada lá atrás seja colocada em ação agora, no pior momento do ex-presidente. O ato de apoio a Lula é, sobretudo, a confirmação de um pacto de defesa mútua, um negócio no qual o interesse público é ignorado e o pobre contribuinte é a única parte sacrificada. 
   Ainda que em menor número, o que se espera nas imediações do fórum paulistano é que o outro grupo também seja ouvido. O de brasileiros independentes, corajosos e revoltados que não se dobram diante das manobras politiqueiras. Este representam os reais sentimentos da população, farta de maracutaias. O contraponto seria um sopro de dignidade na triste turba que já se projeta. ( VALTER LUIZ ORSI, empresário e presidente da Associação e Industrial de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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