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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

CIDADE DESENHADA

  Érika dos Santos Silva e a filha Gabriela são participantes assíduas. "Acho muito legal essa oportunidade de incentivá-la a fazer algo de que gosta muito"


   Desenhistas profissionais e amadores registram pontos importantes de Londrina em encontros dominicais

   Em plena era das imagens instantâneas captadas em milésimos de segundos por câmeras frenéticas de celulares, algumas pessoas dedicam horas de seu tempo para registrar através traços feitos a próprio punho o cotidiano da cidade. Trata-se do grupo Croquis Urbano Londrina, que todas as manhãs de domingo reúne em diferentes cenários desenhistas profissionais e amadores das mais variadas idades. Por meio de técnicas e estilos diversos, os integrantes emprestam seus talentos para eternizar de forma única e pessoal lugares tipicamente londrinenses. 
   Criado em março do ano passado, o Croquis Urbano Londrina já realizou 47 encontros. “O grupo é aberto e qualquer pessoa pode participar, não há nenhuma taxa e nenhuma exigência em relação a técnica e nível de aprendizado. Cada um traz seu próprio material e tem liberdade plena para fazer seus desenhos. A única condição imposta é ser o mais fiel possível às cenas que presenciamos na hora”, destaca o estudante de arquitetura Patrick Rocha, fundador do grupo juntamente com o artista plástico Odil Miranda, curitibano radicado em Londrina.
   A duração de cada encontro é de duas horas. “Nos encontramos entre 9h30 e 11h30. A orientação é para que os trabalhos sejam concluídos neste prazo e que apenas alguns detalhes sejam feitos posteriormente. Nas primeiras participações é comum as pessoas com menos experiência pedirem orientações aos desenhistas profissionais. Mas nossa intenção é sempre valorizar o estilo individual de cada integrante”, salienta Rocha. 
   Segundo ele, o número de participantes é variável a cada edição dp evento. “O perfil das pessoas também é muito diversificado. Já tivemos integrantes com idade entre 5 e 80 anos. E profissões que variam entre donas de casa, arquitetos, designers, professores, entre outras.”
   “Já visitamos diversos espaços públicos e privados, urbanos e rurais. Nosso principal objetivo é fazer um registro histórico da cidade por meio dos desenhos. Discutimos com os integrantes onde será realizado o encontro da semana seguinte e postamos o roteiro na página que leva o nome do grupo do Facebook”, informa Rocha. 
   Além de promover a troca de experiência entre os participantes, o grupo londrinense pretende produzir uma exposição para mostrar os desenhos produzidos em quase um ano de atividades. “ Já compartilhamos alguns desenhos pelo Facebook, mas queremos fazer a exposição com os trabalhos originais para que as pessoas vejam Londrina sobre outro ponto de vista e se sintam motivadas a participar dos nossos encontros”, enfatiza o fundador do grupo. 
  
    INSPIRAÇÃO EUROPEIA

   Após acompanhar iniciativas semelhantes em Curitiba, o artista plástico Odil Miranda ajudou a fundar o Croquis Urbanos Londrina
  
 Os primeiros grupos de croquis urbanos surgiram na Europa. O movimento internacional batizado de Urban Sketchers chegou ao Brasil em 2007. As novidades desenvolvidas ao redor do mundo têm ganhado cada vez mais participantes. "Curitiba tem um dos grupos mais atuantes da América Latina", afirma o artista plástico Odil Miranda, que após mudar-se da capital ajudou a fundar o Croquis Urbano Londrina.
   Os encontros do grupo pé-vermelho chegam a reunir cerca de 20 participantes. A FOLHA acompanhou um desses encontros, realizado no Aeroporto Governador José Richa em janeiro e encontrou participantes entusiasmados.
   "Há cerca de quatro meses participei do grupo pela primeira vez com minha filha de cinco anos. Ela gostou tanto da experiência que não me deixa faltar um domingo sequer. Acho muito legal essa oportunidade de incentivá-la a fazer de que gosta muito", afirmou a programadora de bordados Érika dos Santos Silva, mãe de Gabriela Silva.
   Fiquei sabendo dos grupos pela redes sociais na internet e resolvi participar dos encontros. Essa é a segunda vez que venho. Acho que essa experiência de desenhar a cidade acaba deixando a gente com um olhar mais atento a detalhes que geralmente costumam passar despercebidos", ressaltou o educador físico Geisel Campos, que há um ano e meio tem se dedicado às artes plásticas.
   Já o barista e artista visual Lucas Reis e Silva viu no grupo uma oportunidade de compartilhar um hobby que já praticava individualmente. "Sempre gostei de desenhar e registrar cenas da cidade. Fazia isso sozinho até que o grupo foi criado. Sempre que posso participo dos encontros. É uma ótima oportunidade de trocar experiência com outras pessoas. (M.R.)

   
   UMA MANHÃ DE CULTURA E LAZER 

   Um amplo trabalho de pesquisa antecede os encontros dos Croquis Urbanos Londrina. “Após escolher nosso roteiro semanal, a gente procura levantar o máximo de informações sobre o ponto a ser desenhado. É um trabalho muito interessante, mesmo tendo nascido em Londrina sempre me surpreendo com informações históricas e culturais que levantamos durante as pesquisas”, ressalta Patrick Rocha, fundador do Grupo. 
   Além das questões culturais, outro aspecto destacado por ele é o lazer proporcionado pelos encontros dominicais. “ A gente troca muita experiência e faz novos amigos. Sempre que nos encontramos em lugares públicos abertos, buscamos aproveitar o evento para agregar ainda mais o grupo. Já fizemos piquenique após desenharmos o Jardim Botânico e almoçamos juntos em restaurantes da área rural de Londrina”, afirma. 
   Os integrantes já tiveram que enfrentar alguns contratempos. “Acabei sendo assaltado enquanto desenhava o Lago Igapó faltando apenas 15 minutos para terminar o encontro. Depois disso, orientamos os participantes a nunca ficarem muito distantes uns dos outros. Também já fomos expulsos de um shopping por não pedirmos autorização prévia para no reunirmos no local. Acabamos aprendendo com essa experiência e atualmente só agendamos visitas em determinados locais após solicitarmos uma autorização prévia”, revela Rocha. (M.R.) ( MARCOS ROMAN – Reporagem Local, página 4, caderno Folha 2, domingo, 31 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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