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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

CARIDADE PROIBIDA


   Recentemente, na cidade de São Carlos (SP), o médico veterinário Ricardo Fehr foi proibido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de fazer caridade. Ele e sua esposa são veterinários e passaram a dedicar os sábados para atender gratuitamente a todos os animais de pessoas de baixa renda. No último dia 30 de janeiro, ele recebeu a visita de uma fiscal do Conselho Regional de Medicina Veterinária, que o proibiu de continuar seu serviço humanitário gratuito sob a alegação de que essa prática contraria o Manual de Ética da Classe, que diz que é antiético cobrar abaixo do valor estipulado pelo conselho. 
   No caso de cobrar menos ou oferecer o serviço gratuito, ele poderá sofrer sanções legais e até perder o seu direito de trabalhar. Ele só poderia exercer esse serviço se fosse considerado de utilidade pública, mas o conselho não reconhece que tratar os animais de pessoas carentes seja um serviço de utilidade pública. No caso, a única forma para que ele faça o serviço humanitário é com a abertura de uma ong, com toda a burocracia e eventuais taxas pertinentes. Em outras palavras, esse conselho proíbe um profissional de doar seu tempo para fazer caridade. 
   Curioso que essa postura totalmente estranha do conselho já é definida em seu juramento oficial de classe, que diz: “Sob a proteção de Deus , prometo que, no exercício da medicina veterinária, cumprirei os dispositivos legais e normativos, com especial atenção ao Código de Ética, sempre buscando uma harmonização perfeita entre ciência e arte, para tanto aplicando os conhecimentos científicos e técnicos em benefício da preservação e cura de doenças animais, tendo como objetivo o Homem”.
   Ora, fica claro um objetivo corporativo, no qual parece ter maior ênfase o compromisso com o conselho e seu código do que com o bem-estar animal ou a prática de caridade. Muitos também acreditam que o objetivo final deveria ser o animal e não o homem, ou seja, é um juramento que deixa muito a desejar. 
   Existe outro juramento, não oficial, que corrige essas falhas, onde diz: “Juro, na condição de médico veterinário, doar meus conhecimentos em prol da salvação e do bem-estar da vida animal, respeitando-a tal qual a vida humana e promovendo convívio leal e fraterno entre o homem e demais espécies, num gesto sublime de respeito a Deus e à natureza”.
Esse juramento é muito mais adequado, mas, infelizmente não é aceito como oficial. Em outros países existe a preocupação com a saúde animal, mas aqui no Brasil a preocupação maior é com que o veterinário não cobre valores menores do que os definidos pelo conselho. Caridade, nem pensar. É proibido. 
Deveriam se espelhar nos juramentos de cursos normais de Medicina, onde um das frases do famoso Juramento de Hipócrates diz textualmente: “A saúde do meu doente será a minha primeira preocupação”. Talvez, por isso, muitos médicos fazem caridade pelo País, sem a ingerência nefasta de um conselho, e seu código de ética corporativo. O mundo precisa de boas ações, quando acontecem, devem ser enaltecidas e não penalizadas, como é o caso atual. ( CÉLIO PEZZA, escritor, página 2, ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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