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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

LULA LÁ NO CALÇADÃO



   Quem viveu os dramáticos episódios da eleição presidencial de 1989 certamente se lembra do ódio visceral que separava os militantes petistas e os apoiadores do então caçador de marajás. 
   Eu tinha 19 anos, cursava o primeiro ano do jornalismo e, como quase todos os meus amigos da época, votei em Lula. No primeiro e no segundo turno. Votar em Collor era algo inconcebível. Dizer isso no grupo social que eu frequentava àquela época seria equivalente a um suicídio de reputação. Lembro—me de uma pesquisa que fizemos entre os alunos da faculdade: 90% votavam em Lula, havia uns votos pingados para Brizola, Covas e Roberto Freire – e apenas um eleitor de Aureliano Chaves. Curioso é que esse eleitor de Aureliano depois virou petista fanático.
   Mas eu acreditava em Lula. Sofri muito com as pesadas acusações pessoais que o candidato do PRN lhe fez à época, numa campanha que ainda hoje, 26 anos depois, eu considero sórdida. Naquela época, nós considerávamos Collor uma representação do mal absoluto. Lula também o considerava, a julgar por suas declarações públicas, antes e depois da eleição vencida, como todos sabem, por Collor. 
   Naquela época, lembro-me que assisti a um comício de Lula no Calçadão de Londrina, à altura do antigo Coreto, hoje chafariz. Devo reconhecer que o candidato petista possuía magnetismo em sua fala desprovida de sofisticações. Já era possível notar, em ,sua voz rouca, um espírito autoritário e uma vaidade personalista que depois viriam a se confirmar. Mas, aos 19 anos, com a estrelinha no peito, eu tratava de afastar esses pensamentos “pequenos-burgueses”. Havia uma eleição a vencer. 
   Graças a Deus, nós a perdemos. Após o segundo debate entre Lula e Collor, quando o candidato alagoano nocauteou o líder sindical (não, a culpa não foi da edição da Globo), eu tive a certeza de que o Brasil não teria um presidente petista em 1990.
   Lula conseguiu se eleger doze anos depois, não com o meu voto. Com o PT no poder, a aproximação entre os dois ex-inimigos começou a se escancarar. Logo se provou que Lula só se incomodava com os vícios e pecados de Collor quando este era adversário. Ao se tornar aliado, e aliado servil, o velho inimigo virou amigo de infância. A ponto de Lula entregar a Collor o comando político doa BR Distribuidora, subsidiária da maior empresa do País. 
   Com o tempo, descobrimos que o esquema PC era coisa de tribunal de pequenas causas perto do esquema PT. Nem mesmo os detalhes das duas situações – o tríplex do Guarujá e a Fiat Elba – são comparáveis. Acabaram-se os tempos românticos da corrupção. Como atestam as recentes investigações da Lava jato , Lula e Collor hoje caminham lado a lado na ocupação do Estado e na destruição do País. A diferença está apenas no grau de sociopatia. Lula é um mestre; Collor, apenas um discípulo. Um dia, eu acreditei que eles se odiavam - quando, na verdade, foram feitos um para o outro. ( Texto extraído da coluna AVENIDA BRASIL, por PAULO BRIGUET, página 3, caderno Folha Cidades, Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br, xeta-feira, 29 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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