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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

ESCRITA PADRONIZZADA



   Regras do novo acordo ortográfico são obrigatórias no Brasil desde 1º de janeiro 

   As regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa tornaram-se obrigatórias no Brasil no dia 1º de janeiro. No entanto, em alguns países que falam o mesmo idioma esta obrigatoriedade ainda não está vigente. Isso porque o Brasil é o terceiro dos oito países que assinaram o tratado a tornar obrigatórias as mudanças, que já estão em vigor em Portugal e Cabo Verde. Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste ainda não aplicam oficialmente as novas regras.
   Neyde Jordão, que é natural de São Tomé e Príncipe e mora em Londrina, diz que o que mais estranhou são algumas palavras que ao seu ver se tornaram “erradas” na forma de escrever, como facto , que se tornou fato. “Deveria ser facto mesmo. Achei estranha essa mudança. Em São Tomé e Príncipe a palavra facto significa um conjunto, desses de roupa”, destacou a mulher, que estudava línguas e literatura moderna na terra natal dela e veio esudar na Universidade Estadual de Londrina (UEL) por meio de um programa de intercâmbio.
 Na cidade 11 anos Neyde montou um salão de beleza especializado no penteado estilo afro. Segundo ela, as mudanças não representam tanta influência no dia a dia. “Minha escrita hoje é mais para o Facebook”, disse. Embora gramaticalmente haja essa busca pela padronização, ela aponta que o uso de palavras diferentes para um mesmo significado é um dos grandes desafios. “Em São Tomé, um apontador é uma fiadeira. Se você falar isopor por lá, ninguém entende. Lá eles conhecem como esferovite. Essas coisas vão continuar linguisticamente em cada país. Para ler um livro escrito no Brasil. Eu fico o tempo todo perguntando qual o significado de algumas palavras que são usadas apenas aqui”, afirmou. 
   Colega de salão de Neyde, Andréa Roni Lopes de Carvalho é de Guiné-Bissau e veio para Londrina como intercambista. Para ela, as mudanças na ortografia são positivas. “Achei legal. Vai igualando a língua de todos os países de língua portuguesa. Outros países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa possuem diferenças, pois cada país tem suas gírias, mas o certo é igualar tanto na forma falada como na escrita”, opinou. 
   Ela destaca que o Brasil recebeu muitas influências de outros países e de outras culturas. “Digamos que o Brasil precisa se aproximar de outros países que falam a língua portuguesa. Aqui se fala muito gerúndio, como indo, fazendo, comendo. Quando a gente volta para lá o povo diz que a gente fala cantando”, declarou. 
   A padronização da língua visa facilitar o intercâmbio cultural e científico entre países e ampliar a divulgação do idioma e da literatura em língua portuguesa, já que os livros passam a ser publicados sob as novas regras, sem diferença de vocabulários entre os países. De acordo com o Ministério da Educação, o acordo alterou 0,8% dos vocábulos da língua portuguesa, no Brasil e 1,3% em Portugal. 
   A professora de português Júnia de Barros Schlumberger, de Londrina, acredita que o novo acordo “não vai mudar nada”. “Não sei se esse acordo vai pegar. Ninguém sabia usar o hífen e vai continuar sem saber. Houve mudanças de acentuação e de letras arcaicas qu estão caindo. Facto já usávamos fato. Carácter já usamos caráter, ressaltou. “Não sei o porquê de unir Acho que vai demorar para isso acontecer. Para a língua falada virar língua portuguesa demorou quanto tempo? Para virar uma língua unificada também vai demorar”, analisou. Ela aponta também que houve mudanças na acentuação gráfica e no fim do trema, que ninguém mais usava. 
   Júnia critica ainda a retirada da acentuação gráfica de palavras homógrafas, com exceção do verbo por, que se conjuga pode (presente e pôde (passado). “Tudo isso é falha de uma reforma ortográfica parcial. A última reforma ortográfica de 1972 também foi parcial”, alfinetou.
   Sobre a influência das novas regras nos processos seletivos para ingresso na faculdade, Júnia destaca que tenta ensinar português, mas o que está acontecendo nos vestibulares , segundo ela, “é uma judiação”. “Estamos tirando toda a gramática e priorizando a interpretação de texto. O aluno acha que não precisa aprender regras de língua portuguesa para fazer interpretação”, criticou. (VITOR OGAWA – Reportagem Local, caderno FOLHA CIDADES, terça-feira, 12 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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