Páginas

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

DEVOLUÇÃO

   Era hora de almoço e ele a esperava fazia trinta minutos. Atrasada, ela chegou.
   - Desculpa. Trânsito. Seguinte, jogo rápido! Você é legal, gosto de ter você e tal, mas não dá. Pensei bem e acho melhor a gente terminar. 
   - Bom, já que é assim – magoado, tira da mochila o coração dela – tô te devolvendo. Tá bem limpinho sem nenhum arranhão. 
   - Ah, sim, claro. Deixa eu pegar o seu – procura na bolsa. Espera aí... eu acho que botei no zíper de fora ... ih, menino, onde tá – continua procurando – será que eu deixei em cima da geladeira? Até colei um papel escrito: Devolver logo!
   - Viu – diz com os olhos marejados – anda rápido que eu preciso voltar para a empresa...
   - Calma lá – atrapalhada interrompe-o – eu acho que coloquei como chaveiro da chave do carro...nossa, hoje eu não tô achando nada. De manhã mesmo eu não encontrei a escova de cabelo e o croque eu fiz com aquele lacrezinho do pacote do pão de forma, acredita? Ai, onde tá?
   - Eu não acredito que você perdeu? Eu cuidei do seu tão bem;
   - Ai – sem ter prestado atenção no que o ex acabou de falar – devia ter colocado como chaveiro de celular. Assim falaria com você pelo Whats...
   O quê? Iria terminar pelo Whats? 
   - Ai, fresco, ia mandar como mensagem de voz. Garçom – assovia – traz um papel aqui!
   - Você é desumana, iria terminar por mensagem e ainda por cima perde meu coração! Ei, vendo-a dobrar o papel – você tá fazendo um origami?
   - E você queria que eu pedisse uma argila e moldasse um coração? Mando bem em EVA e isso é moleza, meu filho. E outra, isso é só pra você não ficar sem nada essa semana. Você vai demorar um pouco pra me esquecer e até fica feio dar seu coração pra qualquer lambisgoia logo depois que separou, não é? Prontinho, está aqui - entrega-o. 
   - Faz o seguinte, fica com seu origami, otária. E se achar meu coração, nem precisa jogar no lixo. Ficou com você esse tempo todo, o que dá no mesmo!
   Ei, espera – olha pra mesa e vê seu coração devolvido. Gente, não tem um arranhãozinho mesmo. Bem que minha mãe fala que sou muito desorganizada com as coisas dos outros. Garçom, uma água por favor...( BRUNO PETRI, estudante universitário e mora em Ibiporã, página 3, caderno FOLHA 2, espaço CRÔNICA, quarta-feira, 13 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário