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sábado, 23 de janeiro de 2016

A KOMBI E O PÁSSARO DA MORTE




   Numa atitude correta, o prefeito determinou três dias de luto oficial pelas vítimas do acidente aéreo ocorrido nesta semana, no Distrito da Warta, em Londrina. Como todos sabem, um avião monomotor caiu sobre uma Kombi causando a morte de seis pessoas. Pouco antes do poente, o Pássaro da Morte cruzou o caminho da velha perua. Gostaria de dizer uma palavra sobre a Kombi. Se existe um carro mais simpático eu desconheço. Quando dizemos o nome Kombi, parece que nem estamos nos referindo a um automóvel, mas a alguém de carne e osso. Talvez seja o mais humano dos automóveis, acompanhada nessa categoria apenas pelo Fusca. 

   CARRO DE TRABALHO 

   Quem pensa na Kombi, pensa no trabalho. Criminosos – dos assaltantes comuns aos ladrões do dinheiro público – dificilmente utilizariam a perua da Voskswagen em suas ações ou fuga, até porque estabilidade e velocidade não são os fortes do veículo. Kombi nos faz lembrar quem trabalha de sol a sol: o comerciante da Ceasa, o feirante do bairro, o vendedor de caldo de cana e os trabalhadores rurais, que foram as vítimas do desastre de quarta-feira. 
   Durante alguns anos eu fui de Kombi para a escola. Era uma perua branca, com faixa amarela onde se lia em letras garafais: ESCOLAR. Recordo-me com nostalgia do sacolejar nas poltronas pretas, da voz simpática do motorista Jaime, das nossas bolsas que tinham fecho olho-de-gato, do álbum de figurinha de Guerra nas Estrelas, das conversas sobre futebol com os outros meninos e do inconfundível ruído do motor Volkswagen. Nós não sabíamos, mas a Kombi seria a nossa condução para sempre – pois too mundo tem uma Kombi em sua vida. 

SÁBADO FEIRA

   A Kombi também me faz lembrar nas feiras de Londrina, onde encontramos verduras, legume e frutas fresquinhas todas as manhãs. Adoro ficar passeando entre as barracas , ouvindo a conversa das donas de casa e, frequentemente, encontrando amigos tão amáveis como Pedro Scucuglia e Nelson Capucho. As kombis dos feirantes, perfiladas nas ruas, são os limites desse mundo, das segundas, terças, quartas, quintas e sextas. Aliás, de todos os dias: eu costumo dizer ao Pedro que o fim de semana é composto por sábado-feira e domingo-feira.
   Rodofo, Renan, Flávio, Cleverson, Odirley, Luís Carlos: são esses os nomes dos trabalhadores que morreram no desastre da Warta. Em nome de todos aqueles que um dia andaram de Kombi, eu registro o meu profundo sentimento de pesar por essas vidas perdidas numa tarde triste, de um céu tão azul que não nos permitia imaginar uma tragédia dessas. Que Deus dê paz e consolação a seus familiares e amigos. ( Crônica AVENIDA BRASIL, por PAULO BRIGUET, página 3, caderno Folha Cidade, sábado, 23 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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