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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A JANELA DA HISTÓRIA


   Alguns podem perguntar por que escolhi a escadaria da Biblioteca Municipal para fazer as imagens da matéria sobre o lançamento da coluna Avenida Paraná e do blog Bonde Briguet. São vários motivos, na verdade. Primeiro, a Biblioteca é um dos meus lugares preferidos. Vou lá quase todos os dias, conheço funcionários pelos nomes e percorri todas as prateleiras. Ali encontrei livros e autores que passaram a ser meus diletos companheiros na estrada da vida. O mais recente amigo que lá encontrei foi José Lins do Rego, autor de “Menino de Engenho”. Uma das maiores alegrias que aquele lugar me proporciona é descobrir (ou redescobrir escritores de talento. 
   A Biblioteca respira a história da cidade. No segundo andar, tem a Sala Londrina, com livros sobre nossa terra. Na porta da sala, está um chora-paulista. Para quem não sabe, o chora-paulista é uma caixinha de madeira colocada na entrada das casas, na qual se fixava uma lâmina de enxada. A utilidade do objeto era limpar as botas sujas de barro dos visitantes. Esse nome, bastante poético, faz lembrar as dificuldades que todos os novos moradores da região – não apenas os paulistas – enfrentaram nos primeiros tempos de Londrina, na época em que a lama e o pó dominavam o ambiente.
   Antes de ser Biblioteca, aquele prédio sediou o Fórum de Londrina. O atual teatro Zaqueu de Melo era a sala do tribunal do júri. E, antes de ser Fórum, ali era a quadra de tênis dos escoceses da Companhia de Terras. (Sim, os ingleses na verdade eram escoceses legítimos.) Ás vezes eu fico imaginando quantos dramas e comédias humanas já passaram por aqueles corredores. 
   Ainda no segundo andar, está a mesa que os primeiros prefeitos da cidade se reuniam com o secretariado. 
   Diante da antiga mesa do prefeito, iluminando a escadaria, está o belo vitral com o Brasão de Armas do Estado do Paraná. O brasão traz a imagem de um lavrador ceifando a terra vermelha, símbolo da nossa região. O sol nascente simboliza a liberdade; as três montanhas representam a fé, a esperança e o amor dos primeiros pioneiros (uma interpretação pessoal minha). Há ainda dois ramos na base do escudo: um, de erva-mate; o outro, de pinheiro. Faltou um ramo de café. Mas, pensando bem, não havia como prever a importância do café quando o símbolo foi criado em 1910. A obra de arte é assinada pela empresa Vitraes Galliano, no ano de 1949, quando Londrina ainda era uma debutante. Aquele vitral é um ponto luminoso em que a história visita o cotidiano. 
   Quando publiquei meu primeiro livro individual de crônicas, escolhi a Biblioteca para fazer o lançamento. Lembro que a Vó Maria teve grande dificuldade para subir a escadaria. Mas estava lá, firme. Às vezes, tenho a impressão de que vou encontrar a Vó Maria lá em cima, perto da mesa do prefeito e do chora-paulista. Acho que está explicada a escolha, não? ( Crônica do escritor PAULO BIRGUET, página 3, caderno Folha Cidade, espaço AVENIDA PARANÁ. Fale com o colunista> avenidaparana@folhadelondrina.com.br quinta-feira, 28 de janeiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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