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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

EM FOCO, O CINEMA LONDRINENSE



Com 12 filmes e mais de 50 prêmios, cineasta paulista radicado em Londrina conseguiu impulsionar a cena cinematográfica do interior do Paraná

   Definitivamente, não é exagero considerar o jovem cineasta Rodrigo Grota um desbravador do cinema londrinense. Aos 36 anos, ele já acumula em sua trajetória a direção de 12 filmes (um longa, três média e oito curtas) e mais de 50 prêmios entre festivais nacionais e internacionais. No momento, está finalizando a edição do seu primeiro longa – “Leste Oeste” – com estreia prevista para 2016, ano em que também continua a captação de recursos para o filme “Sertão de Sangue” , um western a ser gravado no Mato Grosso, em coprodução. Também estão previstos programas para a TV Brasil e a produção de mais dois longas: “Aleluia” e “Tango, Chuva & Silêncio”.
   Dono de uma “personalidade ansiosa” como costuma se definir. Grota se formou em jornalismo, em 2000, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), e foi durante sua rápida passagem pela Folha de Londrina que ganhou o apelido de “220 volts”. Inventivo e talentoso, conta que foi fundamental seguir o conselho do saudoso amigo jornalista Francelino França (morto em 2006, em decorrência de um câncer), de que tivesse “mais foco”. “Acho que nos últimos anos realmente estou conseguindo fazer isso, focando minha energia nos filmes e cursos de roteiro e interpretação, que são coisas que realmente eu gosto de fazer. Trabalhar com cinema me faz sentir vivo”, afirma, Grota. 
   Natural de Marília (SP), de uma família de classe média, sua relação com Londrina começou ainda na infância, quando aproveitava para passear na cidade durante visitas a parentes que moravam em Cambé. Cursar jornalismo aqui foi uma forma de se aproximar do sonho de fazer cinema e a afinidade com a escrita sempre rendeu elogios desde criança. Como parte do seu processo criativo, escreve todos os dias. 
   O fascínio pelo cinema surgiu na adolescência, quando passou a frequentar assiduamente o cineclube de sua cidade natal e se apaixonar pelos clássicos. “Eu era muito tímido e participar dessas sessões era um j jeito de ter acesso a um mundo mágico, a uma outra forma de comunicação”, ressalta. E foi em Marília que teve sua primeira experiência com uma câmera para a realização do curta “Pé de Veludo”, em VHS, sobre um ladrão que aterrorizava a cidade sorrateiramente. 
   Em Londrina desde 1997, contou com parceiros importantes que colaboraram para o início para a produção cinematográfica local, marcada pela Fundação do Instituto Kinoarte (do qual fez parte de 2003 a 2013), sendo hoje sócio da produtora Kinopus. 
   Mas fazer cinema não é fácil. “É preciso perseverar e saber lidar com muitos “nãos”, algo que percebo que a nova geração tem mais dificuldade. Os meus pais não apoiaram as minas ideias no começo. Na verdade, acho que minha mãe (morta em 2013, vítima de câncer) só passou a acreditar no meu sonho ao ver, ao vivo, pelo canal Brasil, a minha primeira premiação em Gramado, em 2007, pelo curta “Satori Uso”, quando o ator José Wilker entregou o prêmio para mim e eu dediquei a ela”, recorda.
   E Grota dá risada ao lembrar de quando chegou em casa com três prêmios Kikito, após a premiação, esse deparou com a energia elétrica cortada por falta de pagamento. “Eram tempo mais difíceis e fazer cinema realmente também exige muito pragmatismo e organização financeira, já que não há uma remuneração estável como os empregos de carteira assinada”, comenta. 
   Em busca do sonho de fazer cinema em São Paulo, chegou a morar lá de 2007 a 2012 (embora continuasse tocando os projetos em Londrina), mas nenhum dos seus filmes se tornou realidade na capital paulista. Por outro lado, a experiência valeu a pena: foi lá que pode encontrar a sua parceira de vida e de cinema, a produtora e jornalista Roberta Takamatsu (“Robertinha”) e fazer novos contatos para a produtora Kinopus, que cada vez mais busca parcerias de coprodução para diversificar seus projetos. 
   De volta a Londrina em 2013, agora Grota se sente seguro para investir em temas mais autobiográficos. “ Em “Leste Oeste”, falo sobre a possibilidade de ‘voltar para casa’, de retornar às origens após um longo período de distanciamento. É algo que me questiono às vezes e chegou a hora de falar sobre isso. Parafraseando o poeta Manoel de Barros, fazer cinema é como preencher aquilo que nos falta”, define. Um roteiro que, felizmente deverá ter novos capítulos. ( FONTE: CAROLINE AVANSINI - Reportagem Local, suplemento  LONDRINA 81, páginas 30 e 31, 10 de Dezembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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