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domingo, 8 de novembro de 2015

NOSSA ESPADA




   Das férias dos netos aqui, restou uma espada. É claro que ficaram brinquedos espalhados por todo lado, certa noite tinha uma tartaruga-ninja debaixo do meu travesseiro, mas... (suspiro de cansaço e saudade) a espadinha de taquara, com guarda-punho amarrado com fita crepe, foi a mais usada e disputada. Por ela se atracaram Caetano, Lucca e Pietro, como se fosse de ouro!
   Talvez porque era a última de quatro, uma para cada um e uma para o avô, que eu não vou fazer brinquedos e ficar fora da brincadeira. E a luta se deu em redor da fogueira.
   Depois de jantar espetinhos com salada,  e depois de duelar e fantasiar heróis e lutas, eles acocoraram diante do fogo, enfiando a ponta das espadas no braseiro, e assim ficaram, de repente inacreditavelmente pacientes.
   Mas, também de repente, um se levantou, com a agilidade dos heróis, mostrando um tição na ponta da espada! Os outros também tiraram da fogueira suas espadas atiçadas e a grande  dança começou.
   Girando os braços, faziam zeros e oitos até que, girando o punho, escreviam letras luminosas e instantâneas na escuridão em redor da fogueira, cada um gritando o próprio nome. Até que Pietro se queimou e então a Tríade (avô, mãe e tia) entrou em cena proibindo espadas de fogo.   Murchamente  obedientes, eles enfiaram as pontas das espadas no balde com água.
   Depois também obedeceram ficar longe da fogueira, cada com com sua espada, agora fumacentas as pontas antes flamejantes.
   Então também entrei em cena:
   - Meninos, talvez então não será melhor dar um fim digno a espadas tão heroicas? Que tal botar na fogueira?
   Eles trocaram olhares, mosqueteiramente jogaram as espadas na fogueira. A avó tentou acudir:
   - Para que isso? Peguem lá!
   Mas que, As espadas já estavam em chamas – e, antes que virassem brasa, eles lembraram da MINHA espada!
   Avançaram para ela. Tentei explicar, negacear, negociar, negar simplesmente, mas voltei atrás diante da argumentação de seus olhares e, enfim, a espada foi rodiziada, passando de mão em mão. Mais disputada que bandeira de time de campeão.
   A Espada era a Renascença das espadas sacrificadas!  Cada um era um herói, mas, como era uma só para os três, logo estavam em guerra de tapas e empurrões disputando a Espada, até que a Tríade decretou:
   - Pra casa! Banho e cama!
   Fiquei eu com a Espada no colo. Fotogrfo?  Queimo? (Guardo para brincar sozinho?)
   Penduro na parede do escritório. Bel alto, para eles não pegarem. Será meu troféu, que um dia mostrarei aos bisnetos:
   Seu pai brincou com isto, acredita? ( Crônica do escritor londrinense Domingos Pellegrini, página 21, cultura, espaço
 DOMINGOS PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br facebook.com/escritordomingospellegrini,   fim de semana, 7 e 8 de novembro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).

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