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domingo, 2 de agosto de 2015

MANDIOQUILMA

   
          


   PresidentA Dilma andou elogiando a mandioca, e teve gente que estranhou, gente chiou, outros acharam que a mandioca não merece elogio de quem anda tão desaprovada. Mas aqui estou eu, presidentA, acorrendo em teu socorro como Quixote sem  Sancho  nem Rocinante, mas com um monte de alegações em teu favor.
   Primeiro, é um alívio ver que a presidentA encontra, entre tantos ministros e políticos da base “aliada”, algo elogiável .
   Segundo, é alvissareiro saber que alguém no poder consegue ver os méritos dessa raiz que está nas nossas origens nutricionais e culturais. Nunca tantos deveram tanto a tão poucos, disse Churchill sobre os pilotos que, surrando a aviação alemã, evitaram a invasão da Inglaterra, que seria seguida pela invasão da América do Sul e, daí, só Deus sabe como ficaria o mundo.
   Aqui entre nós, nunca tantos deram tanto à mandioca. A batata também nasceu entre os  índios daqui mas, levada para a Europa, voltou com o nome de batata-inglesa e pode ser comida frita, assada e cozida. Já a mandioca, ah, a mandioca também é muito mais: como farinha, faz a base da merenda nordestina, transforma-se em coxinha, é indispensável na feijoada e convive com o arroz-feijão  cotidiano dos brasileiros  de Norte a Sul.
   Quem nunca comeu vaca atolada não sabe o que é combinação perfeita entre a mais dura das carnes, a costela, cozida ao ponto de quase desmanchar, e a mais cremosa das raízes.
   Vó Tiana cozinha mandioca no meio da tarde, botava fumegante no prato, despejava melaço por cima e ficava vendo o neto se lambuzar. Depois ia para o quintal com uma faquinha , cortava pontas  das ramas das aboboreiras, fazia sopa de mandioca com cambuquira e pescoço e sambiquira de galinha. Podem me prender, me bater e me torturar, presidentA, mas continuarei a dizer que é a sopa mais gostosa do mundo.
   Nonna Paulina fritava mandioca até ficar dourada e crocante,o neto comia com arroz-feijão dispensando tudo mais.
   E purê de mandioca então? É só amassar com o garfo na panela, misturar leite e queijo ralado, pronto, o purê de batata perde feio.
   E existe café da tarde mais brasileiro e gostoso  que com bolo de mandioca?
   PresidentA, se pouco haverá para  imortalizar teu mandato, com certeza teu elogio à mandioca é digno de uma femina-sapiens (permita-me a correção, presidentA, mas “mulher-sapiens”.como a senhora falou, não é correto pois mistura Português com Latim, como tantas misturas do seu governo: economia com política, dinheiro público com privado, administração com desorganização, assistência social com eteceteretal).
   Se vier a Londrina, venha comer bolo de mandioca aqui na chácara, com café de coador e passarinhos no quintal. E, se um dia criarem uma Comenda da Mandioca, que a senhora seja a primeira a ser homenageada. Como disse o poeta, de tudo fica um pouco e, se de teu governo ficar o elogio da mandioca, já será muito. (Texto do escritor Domingos Pellegrini, página 15, cultura, espaço
DOMINGOS PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 2 de agosto de 2015).

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