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segunda-feira, 20 de julho de 2015

O PAPA FRANCISCO NA AMÉRICA LATINA


   Como fez bem a todos nós, à América Latina e ao mundo a visita apostólica do primeiro papa latino-americano  ao nosso continente. Graças a Deus, voltou o profetismo, a opção pelos pobres, a mensagem de libertação, a Doutrina Social da Igreja. Com coragem e sem perder a ternura, o papa Francisco tocou em muitas feridas, dentre elas , a “ditadura sutil do capitalismo, , o monopólio dos meios de comunicação social, a economia sem coração, a necessidade de a América Latina ser uma “grande pátria”.
   O sucessor de Pedro nos estimulou a respeitar os cinco pilares da dignidade humana e da sociedade. Primeiro: nenhuma família sem casa. Segundo: nenhum camponês sem terra. Terceiro: nenhum trabalhador sem direitos. Quarto: nenhum povo sem soberania. Quinto: nenhuma pessoa sem dignidade. Eis os horizontes de um mundo diferente e melhor. O papa referiu-se aos três “T”: o trabalho, o teto, a terra. Esses três “T”, simbolizam a crise atual do desemprego, da falta de moradia, da depredação do meio ambiente. É preciso devolver aos pobres o que lhes pertence, unir os povos no caminho da justiça e da paz usando os braços do diálogo e da proximidade.
   Economia, diz o papa, não deve ser mecanismo de acumulação sustentada pela “lógica do lucro”. Este sistema ninguém aguenta mais porque traz exclusão, insatisfação, tristeza e  destruição da natureza. Economia é administração da casa comum. Quem crê na “globalização da solidariedade”, fará de tudo para diminuir as desigualdades sociais geradoras de violência, alcoolismo, de drogas, de desestruturação da família. A economia fundamentada no lucro confia no dinheiro que é o “esterco do diabo”, como diziam os Santos Padres . Atrás  de tudo está a idolatria do dinheiro, pior, o fedor do dinheiro, afirma.
   Precisamos de mudança, nos bairros, nas periferias, no campo, na cidade. Precisamos de mudança na ecologia. Sejamos, pois, semeadores de esperança com olhos fixos no Evangelho do reino que nos proporciona a coragem das mudanças das estruturas, Ninguém aguenta ver o trabalhador sem emprego, o camponês ameaçado, o indígena oprimido, a família sem teto e sem pão, o migrante perseguido, o jovem sem ideais e sem sentido da vida, a criança explorada,  a mãe que perdeu o filho num tiroteio ou bala perdida, a adolescente que se prostitui para sustentar a casa.
   Isso tudo nos comove e faz chorar. Não bastam as teorias abstratas nem a indignação elegante. A realidade do povo nos comove e faz chorar. Digamos “não” às novas  formas do colonialismo . O Continente latino-americano tem obrigação de ser o continente do amor e da esperança, porque é o continente mais cristão da atualidade. O papa também pediu perdão pelos erros e pecados dos filhos da Igreja, especialmente na guerra do Paraguai.
   Em síntese, a visita do sucessor de Pedro nos três países mais pobres da América Latina, fala por si só, porque foi um retiro espiritual, um reavivamento da Doutrina Social da Igreja, um eco do profetismo. Uma confirmação da opção pelos pobres, um apelo à esperança e um recado missionário. “A fé não solidária é mentirosa. Ir à missa sem se preocupar com a periferia, sem ter coração solidário, é uma fé doente ou morta”, disse o papa.
   Dirigindo-se aos jovens o Santo padre disse que a amizade é um dos maiores presentes que uma pessoa pode receber e oferecer. É difícil viver sem amigos, porque o amigo marca presença, permanece ao lado nas horas difíceis, diz o que pensa, não deixa o outro caído por terra.  É assim que Jesus faz conosco. ( Texto escrito por DOM ORLANDO BRANDES, arcebispo de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 19 de julho de 2015).

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