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terça-feira, 16 de junho de 2015

SHAMPOO OU XAMPU?



   Hoje vamos falar de estrangeirismos. Sabe o que é isso? É quando usamos uma palavra “emprestada” de outra língua, ou seja, palavra estrangeira. Esse é um fenômeno extremamente comum , não só no português, mas na maioria das línguas modernas, e pode acontecer basicamente de duas formas: quando usamos uma palavra estrangeira para substituir um termo de nossa língua (é  o que acontece quando você diz “ok” em vez de “sim”) ou então quando a palavra vem de outro idioma para nomear algo novo, que não tinha nome em português (caso de muitas palavras relacionadas a tecnologia ou internet, por exemplo.
   O uso de palavras estrangeiras no português não é, de jeito nenhum, uma novidade. A nossa língua, aliás, surgiu a partir de outra (o latim) e, desde sua origem, vem emprestando palavras. O que variou muito com o tempo foi de onde emprestamos. Até meados do século vinte, éramos grandes fãs do francês ( seus pais e avós provavelmente tiveram aulas desse idioma na escola, de onde vieram termos como abajur ou sutiã. Depois da segunda guerra mundial, o inglês americano passou a ser a grande fonte de palavras para o mundo todo, incluindo o Brasil.
   Entretanto, quando utilizamos uma palavra estrangeira, temos que verificar se ela não sofreu um “aportuguesamento”, ou seja,  uma adaptação à nossa ortografia. É o que aconteceu, por exemplo,  com os termos citados no parágrafo anterior:  abajur é a versão portuguesa de “abat-jour”,e sutiã  vem de “soutien”. A partir do momento em que há essa adaptação, a regra diz que devemos usá-la no lugar da palavra original estrangeira.
   É aí que nos deparamos com uma questão cultural: muitas vezes , achamos mais “chique” (que vem do francês “chic”)  usar o termo na grafia original, mesmo sabendo que há uma adaptação. Acha que estou exagerando? Então vamos ao título da coluna de hoje: quantas marcas você conhece que usa a grafia “xampu” no rótulo? Aposto que nenhuma!  Todas as grandes marcas preferem a grafia em inglês – “shampoo” – e a maioria dos consumidores também. A este respeito, proponho um pequeno desafio:  A próxima vez que for ao supermercado, pare em frente a qualquer prateleira e observe a quantidade de marcas que usam termos em inglês. Você vai se surpreender!
   Aí vem o questionamento natural: se todo mundo usa “shampoo” , por que a gramática ainda não aceita esse termo? Na verdade, a inclusão de uma palavra na língua, independe da grafia, vem após muito tempo de uso. Pode ser que, de aqui a algum tempo, “shampoo” passe a constar dos dicionários, mas o fato é que ainda não. Então, se você é dono de uma indústria de cosméticos e vai lançar um novo produto para os cabelos, talvez prefira o termo em inglês, para não perder clientes. Mas é importante notar que em uma redação de vestibular ou concurso, serão descontados pontos pela grafia inadequada.
   Nessas horas, seu melhor amigo continua sendo o dicionário. Não custa verificar se aquele jeito de escrever a palavra está correto ou não. Você não precisa, por exemplo, escrever “toicinho defumado”, pois o termo “bacon” já consta de nossa língua há muito tempo. E, retomando o que foi dito antes, nas áreas de tecnologia e internet, a maioria dos termos vem do inglês, só que o uso deles na grafia original é coisa brasileira: Em Portugal não se usa “mouse”,  mas “rato”.
   Só não caia na armadilha de misturar idiomas: a maior cidade dos Estados Unidos é Nova Iorque”. Se você prefere a grafia original “New York”, pode até usar, entre aspas, mas não vá misturar, escrevendo “Nova York”.
   Esse é um assunto naturalmente extenso, que vamos abordar novamente em outra ocasião. Até lá, consulte o dicionário e, em caso de dúvida, escreva para nós ( bemdito14@gmail.com). Até a próxima terça! ( FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS E ESPANHOL, página 5, caderno folha 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, terça-feira, 16 de junho de 2015).

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