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sábado, 13 de junho de 2015

PAPA ECOLÓGICO



   O papa Francisco se prepara para divulgar a sua primeira  Encíclica ! Quem aprendeu a conviver com suas atitudes não vai estranhar que o assunto abordado não diga respeito à Igreja enquanto tal. Escreveu sobre ecologia. Sobre meio ambiente. No entanto, ainda o texto não saiu do forno e já metade do mundo o aprecia e a outra o critica. É um tema espinhoso que desliza sobre trilhos repletos de incertezas e é cercado por interesses de gente que não está disposta a rever atitudes nem se reposicionar num mundo em que a sustentabilidade dá a tônica.
   Apesar do papa Bento 16 ter abordado essa questão algumas vezes, é Francisco que avança com passos seguros e controversos. Tem afirmado que o homem “esbofeteou a natureza” e isso é uma das causas principais para o desequilíbrio e para as mudanças climáticas que constatamos. Não são pontos pacíficos como dissemos atrás, mas o fato de uma autoridade papal ter endossado essa teoria e escrever sobre o assunto, é combustível puro para ambientalistas, bem como bálsamos para gente de bom senso que percebe a agressão constante à natureza e o sumiço de recursos naturais. O papa sabe que as atuais mudanças climáticas se devem “a processo cíclicos da natureza e a atividades humanas desenfreadas”.
   Em que medida cada uma delas (ou serão as duas?) não vai entrar em pormenores e muito menos em conflito com as duas correntes que apaixonadamente as defendem? Vai evitar a rota de colisão porque na ótica dele não é a abordagem correta do tema. Entre aplausos e críticas, Francisco busca provocar uma verdadeira reflexão sobre o assunto polêmico. Ele quer que a Conferência Internacional sobre Mudanças Climáticas  aceite as duas teses e reconheça que os modelos econômicos hoje vigentes colocam a economia acima do ser humano, como ele gosta de referir, e estão tornando bem mais freqüentes fenômenos climáticos que ocorreriam de séculos em séculos. Ou seja, o papa argentino não vai separar  a reflexão daquela que tão perspicazmente desenvolveu na Evangelli Gaudium e com muita convicção. O crescimento econômico não pode ser desculpa para a destruição do meio ambiente  nem para empurrar para as sarjetas ou para periferias existenciais os  “descartáveis”. O eixo é o mesmo. E, nisso, Francisco é extremamente coerente e lógico.
   A argumentação dos endinheirados do planeta sobre as conseqüências da lentidão do crescimento econômico ou retrocesso do mesmo é razoável. Mas a marcha lenta nos investimentos e na busca de energias renováveis e limpas, demonstra certa incoerência e levanta desconfianças quanto às reais intenções dos que negam ou minimizam  o impacto humano sobre a natureza. A encíclica não vai esquecer o poema do Gênesis sobre a criação. Nele, Deus confia ao homem o planeta. Para cuidar dele. Para o usar no melhor sentido do termo!
   O papa Francisco, eleito sob os auspícios da renovação, não tem dado margem a dúvidas sobre sua intenção. Se por uma lado impõe à própria Igreja uma autêntica reciclagem  em busca  do que é essencial à sua missão e razão de ser, por outro, se apresenta como um eminente líder mundial com a autoridade moral que a coerência lhe proporciona. Visa identificar e e combater as causas das grandes mazelas que afetam ser humano. É uma voz que o mundo deve ouvir. Desinteressada e sensível.
   A encíclica sobre ecologia não pretende dar aulas sobre a temática. Aliás. O autor já falou em inúmeras ocasiões que a Igreja não deseja ensinar sobre estes assuntos, mas apenas se somar aos “homens e mulheres de boa vontade”, em busca da  verdade e do bem comum. Aqui, sim, temos um ressurgimento dos conceitos que afloraram no Concílio Vaticano 2. Ao falar sobre a Ecologia, a Igreja, na voz do papa, deseja provocar nos homens a busca de um compromisso claro e peremptório com o futuro. E a isso a gente chama de esperança. ( Texto escrito por MANUEL JOAQUIM R. SANTOS, padre na Arquidiocese de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 13 de junho de 2015).

    

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