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domingo, 31 de maio de 2015

TROCAS



   Lembra quele terno que Dalva me fez comprar para ser padrinho de casamentos? Pois é, troquei. Você há de pensar: trocou porque, se usou só uma vez? Pois e, nem usei.
   É um causo, como dizim os velhos contadores de histórias. No dia do casamento, noitinha, saímos de casa levando as novas roupas para vestir na casa da mãe da Dalva, depois que ela fosse maquiada lá. Então abri o guarda-roupa, peguei o terno, camisa, cinco, sapatos, tudo, até do prendedor de gravata lembrei, e fomos.
   Dalva se maquiou, nos vestimos e rumamos para o casamento. Tudo muito bonito na capela, a cerimônia, a decoração, a música, depois o jantar no salão, e enfim o baile, quando dançamos e, ao contrário do que eu esperva, o paletó “tipo James Bond”, apertadinho, não apertou não, estava até meio folgado.
   - Claro – Dalva revelou o que tinha percebido desde que me vesti  - Você pegou o velho terno azul-marinho, não o novo terno azul-marinho.
   A esta altura, várias pessoas, ao me cumprimentar, tinham falado do terno, pois leram a crônica anterior, e eu confirmava, sim, estava com o novo terno.  Me senti  um fraudador.
   Dançando, mas alguém cumprimentou, elogiando o novo terno, e paramos de dançar para eu explicar que não, era o velho terno, então contando a história da maquiagem etc. Voltamos a dançar, outralguém passou ao lado dizendo “de terno novo, hem”, e eu ia corrigir quando Dalva disse deixe pra lá, ou vamos passar a note contando essa história.
   Lembrei a história das gêmeas que Tio Nino contava. As irmãs gêmeas estavam noivas de dois irmãos bem parecidos.  No dia do casamento, beberam muito e  embarcaram bem bebinhos na viagem de lua de mel, logo após festa, quando pegaram cabines de trem-leito... E, você já adivinhou,  né, trocaram-se os casais, tão parecidas eram as noivas gêmeas. E nem eles  nem elas  perceberam .
   Mas, à luz do dia e sob a sobriedade, encontraram-se no vagão restaurante para o café da manhã, e, depois de discutir o assunto, levando em conta já a noite passada, resolveram que só havia duas soluções: ou destrocar as noivas, fingindo que nada acontecera , ou, continuar com as noivas trocadas para o resto da vida, já que nem a mãe delas conseguia distinguir uma da outra.
   Tio  Nino parava de contar a história  e as pessoas perguntavam e daí, que é que resolveram? Ele se coçava, dava uma suspirada e dizia ué, já não falei?
   Nem mãe conseguia distinguir uma da outra...E eu só sei disso porque um dos noivos, já velho, último sobrevivente dos quatro, me contou a história antes de morrer. Mas não contou que solução  deram ao caso... ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI, página 21, espaço DOMINGOS PELLEGRINI, publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 31 de maio de 2015).

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