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quarta-feira, 22 de abril de 2015

FLORESCEU A MENINA FLOR



   Ela se sentia oceano. Sem começo, nem fim. Você já viu uma parte do oceano? Não existe. É o todo, não tem como separar, dividir, classificar ou segurar. Ou você mergulha de cabeça, se deixa ser oceano, e faz  ele ser você, ou se afoga antes mesmo de mergulhar.
   Ela se sentia entregue. Entregue a algo que não entendia  ou nem ao menos sabia o que era, mas se deixou levar. Deixou ser, fosse o que tivesse que ser.
   Ela se sentia uma pena na asa de um gavião. Sentia a brisa da liberdade perante um  voo incerto porém necessário. Ela se sentia fora do ninho. Não porque não pertencia mais ao tal, mas porque não era mais tão indefesa e tão dependente.
   Ela se sentia flor que desabrocha em dia ensolarado. Olhos e elogios a cercavam. A brisa leve espalhava seu cheiro pelos lugares  onde passava. O passarinho cantava, a terra molhava, a pétala  abria.
   Ela se sentia música que acalma numa noite conturbada.  Se fez  parte de sua música favorita, alternando, hora era letra, ora era melodia, e acabou por fazer sua própria música. Seu próprio jeito de se acalmar.
   Ela se sentia alegria que invade alguém apaixonado. Sorria de tudo e por tudo, e fazia os outros sorrirem também. Queria que todos se sentissem como ela, que recebessem essa alegria, essa vontade de viver um amor às cegas, que só os apaixonados sentem.
   Ela se sentia amor. Há poucos dias havia entendido mais coisas do que em sua vida inteira. Fez uma faxina em seu coração, e descobriu que havia amor até mesmo nas partes que há muito não  se limpava. Tudo era amor. Até a dor era amor.
   Ela se sentia e se permitia sentir. Desde o arrepio de uma cócega até um frio na barriga de um beijo roubado. Sentiu e sentia tanto que se tornou sentimento. Sensível, como só ela, sentiu a necessidade de não mudar e continuar assim, mesmo correndo o risco do vulnerável. Ela se sente agora. Se sente como você, que lê esse  texto, e  entende que o que ela sente é amor. No fim, ela se encontrou. Sentiu e semeou. A flor, você e o amor. ( Texto escrito por GABRIELE MENEGHETI, estudante de letras em Londrina, extraído do caderno FOLHA 2, página 3, espaço  CRÔNICA, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira, 22 de abril de 2015).

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