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quinta-feira, 23 de abril de 2015

CORRUPÇÃO 5 X 0 PIB



Ante o anúncio do IBGE de que o PIB cresceu (?) apenas 0,1% em 2014, vêm de imediato à mente as causas que conspiram contra a expansão econômica, como a falta de políticas públicas eficazes por parte do governo e de um projeto de país competitivo. É  preciso reiterar, porém, ser a corrupção um dos fatores que mais contribuem atualmente para a letargia do nível de atividade, firmando-se como a artilheira dos gols contra no jogo da globalização, no qual o Brasil está perdendo para os seus próprios erros.
   A improbidade bate o nosso PIB por cinco a zero. O primeiro gol contra refere-se ao desperdício de recursos que poderiam reforçar os investimentos públicos, melhorar  a infraestrutura, a saúde e a educação, mas são desviados para contas no exterior  e os bolsos de políticos, doleiros, operadores de partido e executivos de empresas, que constituem uma corrente nociva contra o erário público. Estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que cada real desviado representa dano de três reais para a economia e a população. Os valores nominais também assustam! Por exemplo: R$ 10 bilhões no caso do “petrolão” e R$ 19 bilhões no novo escândalo que acaba de eclodir na Receita Federal, relativo ao pagamento de propinas para  redução do valor de multas aos sonegadores.
   No índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional,  organização não governamental alemã, o Brasil ocupa o 72º lugar entre 177 nações .  Posição muito desconfortável, considerando que somos “menos  ruins” nesse quesito apenas do que países com menor índice de desenvolvimento . O Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) acaba de revelar que, dos R$ 105 bilhões registrados pelo seu Sonegômetro, do início de 2015 a  meados de março, R$ 80 bilhões escoaram-se por conta das operações de lavagem de dinheiro.
   Na esteira dessas constrangedoras estatísticas, o segundo gol contra marcado pela corrupção é o da desconfiança, que afasta investimentos produtivos estrangeiros, desestimula os empresários  nacionais e cria uma sombra de temores sobre nossa economia. O terceiro gol é o efeito em cascata negativo ao longo das cadeias produtivas nas quais se manifesta. Vejam o estrago na área do petróleo, com as maiores empreiteiras nacionais praticamente paradas  e a Petrobras colocando o pé no freio nos investimentos e projetos , inclusive no setor da construção naval. Só os investimentos diretos da companhia e os indiretos representam 3,2% do PIB. A redução no aporte previsto pela estatal este ano deve superar R$ 40 bilhões, o equivalente ao orçamento de um ano e meio  do Bolsa Família.
   O quarto gol contra da corrupção é o descrédito nas instituições, à medida que a sociedade vai ficando cada vez mais indignada e cética quanto aos poderes constituídos. E o quinto começa a se manifestar no mercado de trabalho, pois o índice de emprego, um dos fundamentos que vinha resistindo à crise, já está sendo abalado. Isso preocupa muito um setor como o têxtil e de confecção, que mantém 1,6 milhão de trabalhadores  diretos, ou quatro milhões, considerando os indiretos e os gerados pelo efeito renda.
   Todos os brasileiros estão sofrendo com a goleada da improbidade contra a economia, a sociedade, trabalhadores, empresários, a imagem do Brasil e a nossa competitividade no mercado global. ( Texto escrito por RAFAEL CERVONE, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit),  extraído  do  ESPAÇO ABERTO , página 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, quinta-feira. 23 de abril de 2015).

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