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quarta-feira, 8 de abril de 2015

A BERMUDA DO LONDRINENSE


   Sábado pela manhã, Sara e eu caminhamos pelo calçadão de Londrina, após um expresso, um  machiatto e um pãoA  de queijo  em uma cafeteria. Entre a  São Paulo e Rio de Janeiro, sentamos um pouco para apreciar o movimento. Uma trilha sonora urbana nos acompanha: buzinas, passos, vozes indistintas, risos de crianças, de vez em quando um choro. Parecia até o ensaio de uma orquestra. Cada instrumento com seu som,  alguns graves, outros agudos. Há os mais salientes:
   - Doutor, me dá vinte centavos pra uma pinguinha.
   - Dois chips de celular por dez reais.
   - Moça, vamos fazer um cartão hoje?
   - Olha que beleza o oxigênio, você sabe quem criou? Diz um pregador.
   - Que cachorro mais lindo!
   - Gostosa!
   - Brasil mostra sua garra, diz alguém em um palanque.
   - Me dá um dinheiro pra comida!
   - Olha a estátua  viva . Mas, estátua se mexe? É uma estátua dinâmica!
   - Vamos por aqui que estou com pressa.
   - Mãe, é um desses que eu quero. Compra pra mim W Não enche menino!
   - De onde vem esse barulho? Está ouvindo? PI, PI, PI, PI. É da estátua. Será?
   Essa diversidade de sons é acompanhada da diversidade humana. Nossa! Como tem gente diferente no mundo!
   Mas, uma constância chama minha atenção: a bermuda do londrinense. Todos os homens que estavam de bermuda – meninos, velhos, jovens, maduros, grisalhos, morenos, loiros, calvos, negros, pardos, brancos, altos, baixos – tão  diversos, mas semelhantes no comprimento da bermuda. Sempre abaixo dos joelhos!
   Sara sugere que eu faça uma contribuição para o artista da estátua. Aproximo-me e leio o que estava escrito no pequeno cartaz afixado ao tubo onde as moedas caindo adicionam mais um som à trilha sonora matutina:
   “As contribuição mostra sua cultura e valoriza minha arte”
   Penso: Não tenho nenhuma bermuda que  cubra meus joelhos, Preciso comprar uma. Mas, acabou o verão! Fica para o ano que vem! ( Texto escrito por FERNANDO GIMENEZ, professor em Curitiba, extraído do espaço  Crônica, página 3, Folha 2, publicação do jornal  FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira, 8 de abril de 2015).

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