Páginas

domingo, 30 de novembro de 2014

GRAMADO, CANELA E CAFÉ


“Lave as mãos antes de sair”: o aviso, num sanitário de Gramado,  sintetiza a limpeza e a graça duma cidade que vive do turismo e vive o turismo
Conta lenda que tudo começou com as hortênsias, plantadas nos jardins, nas floreiras, nas varandas, nas encostas e até nas estradas, emoldurando uma cidade com cultura italialemã, compensando com cremes a friagem da serra, esquentando a alma com chocolates, enchendo os olhos com arquitetura, com comércio e serviços do melhor dos mundos. E com artesanato autêntico, quase -  quase – sem meidinchina.
Uma dúzia de museus numa cidade de 35 mil almas!  Com dois milhões e meio de turistas por ano, o turismo gera 90% da renda da população.  Sempre tem festivais e eventos, ou, como dizem,  Gramado flore o ano inteiro. Você compra pão artesanal aqui, feito na hora diante de você. Ali  toma um fondue caprichado como que. Aqui,  acoli e acolá se come em restaurantes charmosos, passeia-se em parques que parecem tirados  da Europa, as ruas são animadas de dia e agitadas à noitinha
A vizinha Canela é irmã gêmea de Gramado, também com talvez mais arquitetura alpina que muitas cidades dos Alpes. O comércio é fino, da decoração ao atendimento, e as ruas são bem cuidadas, as praças bonitas, os sanitários públicos limpinhos,  e em cada esquina belos bancos de madeira  esperam por conversa
Então volto a Londrina e vou ao recém inaugurado Museu do Café, que  beleza! Quantos objetos e utensílios a cafeicultura gerou ! E, no Cine Café do museu, que belos documentários sobre o ouro-verde! Que depoimentos emocionantes de quem viveu do café, mais que uma cultura, uma paixão! O bazar é uma beleza, com tantas lembranças artesanais para a gente levar,   cafeteiras, louças, bules, coadores de pano como o que coa café na hora ali no Bar Rubiácea
Mas o melhor é sentir no ar o cheirinho de café torrado na hora, em torradeira manual sobre braseiro, depois moído em moinho manual, os turistas fazem fila para cada um girar um pouco a manivela. E quantas geléias e doces e licores de café, além das cervejas com gosto de café, sorvetes e até chicletes de café
Depois saímos do Museu e já embarcamos em ônibus direto para uma fazenda histórica da cafeicultura, com sua sede reformada e decorada tematicamente, as casas da colônia transformadas em chalés para pernoite, e, no terreiro onde se secava café, agora dançam catira e cateretê, entre barracas de artesanato e comidas típicas  do colonato. Porco frigindo no tacho, pão saindo do forno de barro, doces de abóbora e goiaba borbulhando noutros tachos, e, quando sobe a lua, começa a Folia de Reis
Lá pelas tantas bate bumbo, vai começar o batuque, então acordo, estava sonhando no avião de volta para casa. A comissária (era tão melhor quando  eram chamadas de aeromoças)  oferecia bebidas, diz que o café está bom, peço só ág
- Sou de Londrina, café me dá muita lembrança.     ( Texto escrito  pelo escritor DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegrini@sercomtel.com.br  publicado no JORNAL DE LONDRINA  pag 17 domingo, 30 de novembro de 2014).

Nenhum comentário:

Postar um comentário