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terça-feira, 12 de agosto de 2014

TRABALHO ÁRDUO, HUMILDE, IMPRESCINDÍVEL


     Imagina aquela senhorinha pequenininha e perfumada acordando cedo todo dia para preparar a comida do marido, que sai de madrugada para a roça. De avental na cintura e presilha no cabelo, umas  colheradas de feijão incrementado com lingüiça, frita um ovo e arruma tudo dentro da marmita, bem separadinho, sem esquecer da salada de alface e tomate. De sobremesa, separa uma laranja bem docinha.
     O marido coloca a quentinha na bolsa, ao lado da térmica com café quente e da  garrafa com água gelada, dá um beijo na testa da esposa, e espera o patrão passar na estrada, buzinando a caminhonete. Ele sobe no carro, dá bom dia, e segue para o trabalho ouvindo as notícias matinais da rádio local.
     Na roça, não há distinção entre o trabalho do patrão e do  empregado.  Ambos estão vestindo suas roupas de campo: calça jeans surrada,  camisa de mangas compridas para aplacar o sol, bota e boné. Ambos carregam suas sacolas com as marmitas e a água gelada. Ambos dão um gole de café antes de iniciar a jornada.
     Empregado sobe no trator, enquanto o patrão fica no barracão acertando a plantadeira. Depois de preparar a terra para receber a semente, o funcionário troca de lugar com o dono da terra, que dirige a  semeadeira  pelo campo. E assim se vai mais um dia de trabalho.
      No início da manhã, a fome bate e os dois param por alguns minutos para comer a refeição preparada com carinho pelas esposas. Guardam a fruta para o lanche da tarde e tomam mais um gole de café – agora morno – para despertar e seguir a rotina.
     Cai  a noite, os dois sobem na velha caminhonete de guerra e partem para casa. O descanso merecido os espera. E no dia seguinte acontece tudo de novo.
     Nas pequenas propriedades brasileiras é assim que se dá a rotina dos agricultores. Não tem patrão que não suje as botas, nem funcionário que não conduza a colheitadeira com cabine e com ar condicionado. O trabalho precisa ser dividido para render. Cada um cansa um pouco.
     A diferença fica mesmo no lucro. Enquanto o empregado ganha o salário fixo todo mês, o patrão tem que administrar os lucros -  ou dividendos – dependendo de como foi a safra. Não é fácil para ninguém quando se tem pouca terra e família grande para cuidar. Mas toda ajuda é bem-vinda. Todo bom funcionário é uma bênção e uma promessa: amanhã, aquele que recebe o salário pode ser, também, o dono de um pedaço de chão. Quem sabe?  A resposta está sempre no trabalho bem feito. Árduo, humilde, mas certamente imprescindível. Não apenas no campo  mas para a cidade também.  ( Texto de MARIANA GUERIN, jornalista na FOLHA. Extraído da  FOLHA RURAL, sábado, 9 de Agosto de 2914, publicação da FOLHA DE LONDRINA).

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