Páginas

quarta-feira, 11 de junho de 2014

RODA PIÃO

     Estes tempos em que vivemos é fácil notar a forte presença da tecnologia no cotidiano das pessoas, inclusive na infância. Diariamente, vemos crianças e adolescentes divertindo-se com recursos eletrônicos, celulares, internet e games. Isso é muito interessante, mas há muitas coisas boas que ficaram para trás e não deveriam ser esquecidas. 
     Há poucos dias, conversava com meus irmãos sobre nossas brincadeiras de criança: esconde-esconde, bolinhas de gude, futebol de botão, corda, bilboquê, pega-pega, bate figurinha, bola queimada, cabo de guerra, quente e frio, polícia e ladrão, pernas de pau, soltar pipa. Ouvindo isso, minhas irmãs entraram na conversa e lembraram-se  de como se divertiam: cabra-cega, estátua, passa-anel, faz de contas, cantigas de roda, bambolê, mal me quer bem-me-quer, telefone sem fio, lenço atrás, elástico, brincar de casinha e, claro, as bonecas. Essa divisão entre brincadeiras de meninos e meninas era algo natural, mas as crianças precisavam exercitar sua criatividade para poder brincar.
     Morávamos numa pequenina cidade do interior e naquela época não havia distinção entre área urbana e zona rural, era tudo igual, os costumes, o modo de viver. A diferença entre a cidade e a roça era a lida no campo, porque, na roça as crianças também trabalhavam.
     Eu, assim como meus irmãos e amigos, tive uma infância maravilhosa: após os afazeres da escola, nossa diversão era tomar banho no rio, passear de canoa, caçar passarinhos, jogar futebol no campinho de terra, beber água fresquinha na mina, andar nos carrinhos de rolimã, pegar frutas direto do pé, pescar lambaris no riacho, caçar rãs no brejo, andar de bicicleta, colher pinhão.
No final da tarde, quando a fome apertava, chegando em   casa eu ia direto para a cozinha:  sabia  que minha mãe já tinha feito uma fornada de pão ou um gostoso bolo de fubá, enquanto  o leite e o café ainda quentinhos no fogão à lenha.

     Hoje muita gente mora em apartamentos e a maioria das crianças fica trancada em casa enquanto os pais estão trabalhando. Andar de bicicleta e brincar na rua ficou difícil porque a cidade não tem locais adequados para isso, tornou-se inseguro  e o trânsito é perigoso. Mas, felizmente, ainda existem crianças que, talvez pela condição econômica, estão mais longe do asfalto e do concreto, podendo ainda pisar a grama, subir em árvores, se sujar de terra ou brincar como antigamente.          

( Texto escrito pelo leitor Gerson Antonio Mellati, extraído da coluna DEDO DE PROSA,  do suplemento Folha Rural, FOLHA DE LONDRINA, sábado,7 de junho de 2014 ).

Nenhum comentário:

Postar um comentário