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domingo, 21 de outubro de 2018

A FERA DA DEPRESSÃO


   Muito já se falou sobre a depressão, embora sua compreensão não dependa apenas de quem fala, mas de quem ouve. Para alguns, a depressão é parecida com uma tristeza reincidente e que dura muito tempo, mas quem sofre com ela garante que as duas coisas são diferentes. Este é o caso do escritor Jan L. L. Parella que lançou na última quinta-feira (18), em Londrina, o livro “O QUE APRENDI COM A DEPRESSÃO”. 
   A obra atrai o leitor por vários motivos, primeiro porque o assunto há décadas está nos noticiários, como um dos males do século, em proporção progressiva. Velha conhecida, a depressão crônica hoje atinge mais de 5% da população mundial, sendo que o estresse da vida moderna é apontado como um dos fatores do aumento de casos, o que não justifica tudo. 
   Além do interesse natural que o assunto desperta, tendo em vista tantos casos observados muitas vezes em pessoas próximas, o livro do Parellada atrai porque tem linguagem acessível e, além de acessível, sincera. Trata-se de um amor que enfrentou a depressão frente a frente, num relato no qual não faltam exemplos de como as crises são disparadas em situações que têm tudo para ser feliz; junto à família, perto de pessoas queridas, em viagens cujo principal objetivo é relaxar e ter prazer. Mas, de repente, lá está a fera da depressão, pronta pra pular no peito de quem a conhece de sobra. 
   Parellada mostra então a necessidade de não subestimar os tratamentos psiquiátricos e psicoterápicos, porque é preciso um arsenal competente para vencer o problema que nem todos compreendem, por se alimentar, aparentemente, de razões subjetivas. Os “outros” que muitas vezes são aqueles que fazem julgamentos ou não não compreendem o que se passa com a pessoa que “tem tudo para ser feliz” – têm dificuldades para entender um inferno que se abre de repente, sem razão aparente ou imediata. 
   A depressão, que está no rol das doenças mal compreendidas, se processa a partir do cérebro, com falta de hormônios que regulam o humor, o apetite e o sono, funções básicas de uma vida saudável. 
   As doenças que se processam de forma invisível, ao contrário das que lesionam fisicamente, nem sempre são entendidas pelos que precisam “ver para crer”. Mas é notável, sim, o que a depressão provoca, tornando as pessoas incapacitadas para o prazer de viver. 
Neste ponto, o relato de Parellada ganha importância ao explicar o paradoxo: “se tudo estava tão bem na minha vida, por que tive depressão?” Frase com a qual abre o 16º capítulo. 
O livro aborda as batalhas enfrentadas pelo autor que mostra vulnerabilidade em muitos momentos, como na hora do sono que não vem ou quando se sente como se tivesse “um leão dentro de casa”. Lutando contra inimigos invisíveis, vencendo barreiras que vão da inibição de assumir a doença à incompreensão geral, o livro é sobretudo humano, aproximando o leitor do lado sombrio e reverso da vida, aquele que não venceremos se não soubermos ouvir quem tem a coragem de contar, falando por muitos que sofrem silenciosamente. Este é um dos valores da obra que também ensina a quem tem saúde a ser menos prepotente para compreender quem sofre. 
   O livro, em edição do autor, tem 167 páginas e está à venda nas Livrarias Curitiba, a R$ 40,00. FONTE: Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com página 2, caderno Folha 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 20 e 21 de outubro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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