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terça-feira, 11 de setembro de 2018

O VOTO E O PUNHAL



   Quando pensamos em políticas nos dias atuais, raramente nos lembramos do sentido etimológico da palavra, que nos remete aos “politikos”, ou cidadãos, da “pólis”, as Cidade-Estado da Grécia antiga, aos quais cabia o exercício da civilidade, visando garantir o bem estar de todos. Basta este conceito superficial para refletirmos que essa concepção filosófica/social se tornou uma prática nefasta no passar do tempo e chegar até nós. Para os nossos concidadãos, infelizmente, política é apenas uma obrigação a se cumprir de quatro em quatro anos ao depositar o voto a alguém que se torna seus representante, mas por quem o eleitor jamais se sentirá representado. O termo política foi apropriado por uma categoria esperta em ludibriar o populacho – salvo alguns casos raros – que promete mundos e fundos, mas raramente entrega. 
   E aqui estamos novamente numa corrida presidencial, ou seja, em vésperas d eleições para dentre outros cargos, o de Presidente da República, isso após termos vivenciado um impeachment, a prisão de um ex-Presidente e de vários membros de sua corruptela política; acusações de golpe, delações premiadas, julgamentos duvidosos por instâncias superiores e muita, mas muita sujeira. 
   Onde estão aqueles que garantiram que nos representariam? Se bem que eu não quero ser representado por um embusteiro que depois de eleito irá defraudar o erário e rir da minha cara; não quero ser cooptado por crápulas que dilapidam o patrimônio público e entregam nossas riquezas aos seus aliados ideológicos, mentem e roubam sem enrubescer. Isso não é política, mas um câncer metastaseado em nossa sociedade. 
   Bem, movidos pelo senso do dever de cidadãos estaremos novamente nas urnas – também suspeitas – onde depositaremos nossos votos esperando o melhor para nosso país, para nossos filhos e para nós mesmos. A campanha está acirrada e como sempre é um bom período para aprendermos novos palavrões, ofensas, sofismas e calúnias. Os candidatos frequentemente são profícuos nessas matérias. O certo é que mais um vez teremos que escolher não o melhor, mas o “menos ruim”, o que tiver propostas razoavelmente coerentes, se ao menos tiver uma. Ouviremos discursos enfadonhos sobre acabar com a criminalidade, desemprego, miséria, alavancar a economia, melhor a educação, saúde, etc, etc... Só não ouviremos novidades.
   A sociedade se separa em segmentos que se identificam como representantes do conservadorismo, de um lado, os quais defendem a manutenção do status quo político/social e, de outro lado, os socialistas que aviltaram uma igualdade social, a correção das distorções entre ricos e pobres. Ambos desejam o melhor, mas nesse caldo indigesto vale tudo, ou quase tudo desde gordos financiamentos de campanha, muitas vezes advindo de fontes obscuras que comprometerão a liberdade de ação do eleito, aos debates em redes nacionais de tv com direito a gafes e ataques pessoais que são assistidos como programas de humor. Nas ruas, praças e favelas a estratégia inclui abraços e apertos de mãos generalizados. Nesse período todo preconceito se esvai e todos se tornam dignos de serem abraçados. 
   Enfim, a campanha segue e candidatos são levados nos ombros dos correligionários, até que do meio da multidão surja uma lâmina certeira e penetre em seu alvo. Quem prega a legalização do porte de arma de fogo, quase tem a vida ceifada por uma arma branca. O agressor, preto, pobre, aparentemente acometido por problemas psíquicos, expressa toda sua fúria contra o sistema que exclui e não lhe dá voz. No seu desequilíbrio usa o mesmo artifício odiento que condena.. .a intolerância. Não sabe ele que seu tresloucado ato não mudará o sistema. 
   O ideal democrático dos “politikos” continuará sendo nossa utopia. Se não o conquistarmos pelo voto, jamais o conquistaremos pela lamina do punhal. (Crônica escrita por JAIR QUEIROZ – Psicólogo especialista em Segurança Pública, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, terça-feira, 11 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br )

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