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sábado, 8 de setembro de 2018

O ENCANTADOR DE SERPENTES: UMA METÁFORA DA VIDA


   Todas as tardes naquela mesma praça a cena se repete, a poucos metros da entrada principal da imponente catedral ele arma seu espetáculo cuidadosamente e mantendo a calma de sempre. Um senhor apresentando meia idade, com indício de calvície com alguns cabelos brancos, senta-se de pernas cruzadas de frente a um saco branco, igual aqueles que são usados para o transporte de café ou açúcar. 
   Mesmo não sendo possível ver o que se encontra dentro dele, é nítido que algo vagarosamente se movi a em seu interior e de posse de um porrete em uma das mãos ele minuciosamente o utiliza para desenrolar a boca do saco. Assim que a boca do saco é aberta aquilo que mexia lá dentro começa a ganhar a direção da liberdade. E não demorou muito a criatura misteriosa aos poucos despontava pela boca do saco, podendo ser vista por uma porção de transeuntes, que pela curiosidade se aglomeravam ao redor do homem. 
   A criatura que causava espanto, medo e curiosidade era uma cobra, uma serpente reconhecidamente como venenosa e cruel, capaz de matar seu algoz, sem dó nem piedade. Sua mordida cheia de veneno permitirá apenas mais algumas horas de vida. Mas o que deixava a todos atônitos é que aquele homem ficava sentado muito próximo dela, se fosse possível medir a distância entre os dois não passaria de meio metro. 
   Para deixar a cena ainda mais estranha, o homem, após deixar o porrete que estava em sua mão posicionado ao seu lado, pois de acordo com ele poderia ser usado caso a cobra o atacasse, começou a tocar uma flauta, emitindo um som melodioso. Neste momento a serpente, que já estava quase totalmente fora do saco, parou e começou um movimento de erguer a cabeça cerca de trinta centímetros do chão. Neste momento os que estavam ao seu redor observado, ficaram apreensivos, pois pensavam que a serpente estava preparando um bote fatal. 
   Depois de uns minutos, pois parecia que a cena estava congelada, a não ser pela melodia, o senhor lentamente aproximou-se da cabeça da serpente e de forma ligeira e ao mesmo tempo sagaz, tocou- a com os lábios. Nesta hora as pessoas pareciam delirar, pois não acreditavam no que estavam vendo. Voltando à sua posição de origem, parou de tocar a flauta, neste instante a serpente deita-se e com o porrete em mãos novamente ela a empurra para dentro do saco. Todos ficam encantados e como forma de retribuir doam algum dinheiro para o senhor, que agradecido, diz que no outro dia estará ali de novo, para repetir o feito. Pena que as pessoas não sabem que o encantador de serpentes tirou dela as presas, cegou-a e a mantém sempre muito bem alimentada. E através de uma falsa autoridade adquirida e admirada continua enganando as pessoas que insistem em propagar os seus feitos de herói, como se fossem verdadeiros. ( Crônica escrita por WALBER GONÇALVES DE SOUZA, professor e membro das academias de Letras de Caratinga, Teófoli Otoni e Maçônica do Leste de Minas, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, 8 e 9 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA. * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br).

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