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segunda-feira, 9 de julho de 2018

A CORAGEM DOS PIONEIROS


A menina Elvira nasceu no ano de 1926 em Rubião Junior, distrito de Botucatu-SP. Era a caçula dos onze filhos. Passou a infância entre cafezais e pés de frutas, brincando e trabalhando, carregando a chaleira enorme, pesada, cheia de café com leite e o cesto carregado com polenta assada na chapa e pão com manteiga, tudo feita em casa, pela mãe, dona Rachel, para matar a fome do pai e dos irmãos que passavam o dia trabalhando na roça. A menina contava sempre com a ajuda dos primos por ser muito pequena. 
   Na década de 1930, o seu pai, sr. Giacomo Piccinin, veio conhecer o Norte do Paraná e na volta a Botucatu para provar que a terra era muito boa levou para sua esposa, dona Rachel, uma flor crista-de-galo bem grande que nascia em abundância na mata da região. 
   Comprou da Cia. de Terras Norte do Paraná vários alqueires situados na Gleba do Jacutinga, atrás da atual fábrica Cacique de Café Solúvel. Primeiro veio o pai com os filhos mais velhos, construíram um rancho e iniciaram o cultivo de café, algodão, frutas, legumes e a criação de galinhas e porcos. Depois vieram a mãe com os filhos mais novos. 
Corajosamente deixaram tudo para trás: uma família grande de tios e primos; uma casa boa de alvenaria com água encanada e bem mobiliada. O porquinho de estimação, Chiquinho, foi morto às escondidas para as crianças não sofrerem e veio para Londrina em forma de carne frita guardada dentro da lata, na sua própria banha. 
   A viagem de trem, com toda a tralha, foi até Jataizinho, onde atravessaram o rio Tibagi de balsa e depois prosseguiram a viagem no caminhão do sr. Encrenca, apelido ganho por ser muito encrenqueiro. A viagem demorou 15 horas de Botucatu a Londrina. 
   Foram morar no rancho de palmito que tinha frestas tão largas por onde se via a mata, os macacos, os passarinhos, o céu cheio de estrelas e dormiram por um bom tempo, tendo como cama os montes de algodão. 
   Hoje, aos 91 anos, a pioneira continua cultivando flores, jabuticaba, acerola, manga, araçá, alecrim e capim-cidreira no alto do edifício onde mora, no centro da querida Londrina, e às seis horas da tarde seus olhos brilham e ela sorri feliz quando as andorinhas fazem revoadas entre os prédios. (FONTE: Texto escrito por SONIA MARIA FARIA PEREIRA, leitora da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, 7 e 8 de julho de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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