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domingo, 4 de junho de 2017

MEU VIZINHO OSCAR e a COPA DE 70


   Vivíamos o ano 70 e, é claro, as emoções da Copa do Mundo no México. Não que fosse doida por futebol, mas tratava-se da Copa do Mundo, ostentada como bandeira de patriotismo no Brasil que vivia o período da ditadura. Só sei que me lembro até de alguns jogadores como o Tostão, o Rivelino, o Zagalo , o Pelé, estampados em caricaturas num encarte de jornal trazido pelo meu cunhado João.
   Nessa época tínhamos um vizinho muito bacana, um homem amável, respeitoso, trabalhador, criativo e muito caprichoso com sua casa e sua família. Era o nosso vizinho e amigo Oscar Marega. 
   Mas, afinal o que tem a ver o meu vizinho Oscar, o ano 70 e a Copa do Mundo? Muito simples. Um aparelho moderníssimo chamado televisão. Até então, raríssimas pessoas tinham TV em casa, lembro-me que havia uma num bar, onde os senhores, inclusive meu avô, adoravam ver as Chacretes rebolando no Programa do Chacrinha. Mas nas casas, inclusive na minha, só rádio. O meu vizinho Oscar era muito criativo e inovador, tinha construído uma casa de madeira estilo americano, muito em moda naquela época. A Luzia, sua esposa, costurava para fora, era uma pessoa alegre e gostava de cantar, principalmente as músicas de Roberto Carlos. 
   Voltando ao assunto, a novidade do momento era aquela: meu vizinho tinha comprado uma televisão e ia colocá-la no quintal para que as pessoas assistir aos jogos do Brasil na Copa! Isso era maravilhoso! Para nós então, um privilégio, quase um camarote, pois sua casa fazia divisa de cerca com a minha. Minha irmã e uma amiga costumavam assistir novelas na casa do Oscar. Eu só não ia porque era tímida e ficava com vergonha.
   Para a alegria de todos, especialmente a nossa, assistir aos jogos da seleção brasileira em grande estilo, “ligados na mesma emoção”: era um monte de gente, alguns em pé, outros em cima das árvores, sentados em cadeiras no quintal, felizes por dois motivos: conhecer a TV e torcer pelo Brasil. Foi um acontecimento indescritível, emocionante mesmo, assistir aos jogos da Copa do Mundo pela primeira vez, nas telas da TV , além de conhecer o tal aparelho de perto. Tudo isso graças ao Oscar, homem acolhedor, pioneiro em modernidades, orgulhoso por poder proporcionar alegria aos amigos.
   É com uma ponta de nostalgia que recordo aquela cena e penso no que era preciso para ser feliz: a camaradagem da cidade pequena, a partilha das coisas boas, o sorriso do meu vizinho Oscar, a casa estilo americano, o grito “gool” ressoando no quintal. Fecho os olhos e parece que estou ouvindo aquela musiquinha ingênua, tal como era nossa vida naquele tempo. 
   “Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração. Todos juntos, vamos, pra frente Brasil, salve a seleção”. (Crônica de ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, caderno FOLHA RURAL, página 2, coluna DEDO DE PROSA, sábado e domingo, 3 e 4 de junho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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