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quinta-feira, 4 de maio de 2017

OS LEITORES DA SUPER JÁ SABIAM


    HÁ QUATRO ANOS, um protesto estudantil contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo foi duramente rechaçado pela polícia. A população ficou ao lado dos manifestantes, e tomou as ruas do País, num série de protestos em nome do direito de protestar, fosse contra o que fosse. 
   A economia ia bem: as taxas de desemprego eram as menores da história, o PIB crescia numa média de 3,8% ao ano desde 2010, e ainda subiria mais 2,3% em 2013 (não era uma China, mas ainda assim tratava-se do paraíso diante dos 7% que o País perderia entre 2014 e 2016). Na política, mesma coisa. A popularidade do governo federal chegava a 79% de aprovação , com Dilma superando as maiores marcas de Lula e de FHC - Temer hoje amarga 5%. E a Lava Jato, que abriria as vísceras da corrupção ao público de forma inédita, ainda nem existia: as investigações só começariam em março de 2014. 
   Mesmo assim, os protestos de 2013 foram mastodônticos. Não existia uma agenda de reivindicações, só a sensação de que algo estava errado no Brasil. Como bem define o jornalista Maurício Horta na época: “NINGUÉM sabia por que estava nos protestos, mas TODO MUNDO estava”. 
   Horta também ajudou a SUPER a traduzir aquele momento de forma única. Ele e então o diretor de redação Denis Russo produziram uma reportagem de capa ambiciosa , que busca mostrar onde estava o grande problema da nossa política. E concluíram que era algo que nem aparecia nos cartazes dos protestos, já que ninguém dava bola: o caixa 2. 
   A reportagem chamada
Por que Nossa Política é tão Burra, chegava à bancas em junho de 2013 deixando claro: basicamente toda a nossa política nas mãos dos megadoadores políticos com doações ilegais. Eleitos, os políticos pegavam esse suborno com licitações fraudulentas e obras superfaturadas. No meio do caminho, enriqueciam, se reelegiam, e começavam o processo de novo, num círculo vicioso. Um círculo feito para canalizar dinheiro público direto para as contas dessas empresas. Sim. De onde sai o lucro de uma obra superfaturada, afinal? Dos impostos que você paga. Claro que a SUPER não foi a primeira publicação a falar disso. Caixa 2 sempre foi notícia. Mas a reportagem apresentava uma tese nova: a de que as propinas fantasiadas de doações eram o maior câncer da nossa política. Agora não há mais dúvida quanto a isso. Os leitores da SUPER, já sabiam. Há quatro anos. (FONTE:Revista SUPER INTERESSANTE, 
ALEXANDRE VERSIGNASSI – DIRETOR DE REDAÇÃO , ALEXANDRE.VERSIGNASSI@ABRIL.COM.BR PRIMEIRA PÁGINA – DA MESA DO EDITOR, Editora Abril, Edição 374, MAIO 2017).

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