Páginas

sábado, 27 de maio de 2017

AS PROCISSÕES DEDICADAS A MARIA



   Mês de maio, mês dedicado às Mães e a Maria, Mãe de todos. Em Sertaneja era mês festivo. Havia uma lista de 30 famílias previamente estabelecida que iam receber diariamente em sua casa a imagem de Nossa Senhora. A família recebia o andor enfeitado com a imagem à noite, pernoitava e só era entregue no dia seguinte, à noite em procissão.
   Ao entardecer, as pessoas chegavam um pouco antes do horário, ficavam em rodinhas conversando, faziam sua oferta e na saída, soltavam-se foguetes, rojões. O andor ia à frente carregado por pessoas que se revezavam ao longo do caminho; logo atrás, os donos da casa, e em seguida, as pessoas que iam acompanhando a procissão. Durante o trajeto, cantavam-se fervorosamente, músicas marianas, como: “A 13 de maio, na Cova da Iria... Ave, ave, ave Maria... “, “Com minha Mãe estarei, ba santa glória um dia...” ou “Mãezinha do Céu, eu não sei rezar...” Revezava-se o terço e quando a casa era muito perto da Igreja, a reza terminava lá. Tudo com muita devoção, muita fé, cada pessoa com seu terço, as crianças com seus pais. 
   Alternando músicas e orações, chegava-se à Igreja. Colocava-se o andor no lugar determinado, e o Padre iniciava a santa missa. Terminada, levava-se o andor em procissão para a casa de outra família que estava acompanhando ou estava esperando em sua casa. Era interessante observar o andor, muitas vezes, tinha um enfeite diferente, cada família se esmerava em deixa-lo mais bonito. Todos admiravam e comentavam, parecia uma competição meio velada, e assim, todos os dias.    No último dia do mês de maio, realizava-se a coroação de Nossa Senhora. Era uma festa linda e envolvia toda a comunidade. Nós, a Cruzadinha, íamos vestidas de anjo e, às vezes, uma ou outra criança que a mãe vestia de anjo por causa de alguma promessa. Vestíamos túnicas de cetim branca, azul ou rosa, com a parte de cima cheia de estrelinhas de metal, asas brancas de pena ou feitas de papel crepom. Armava-se na frente do altar uma arquibancada alta de madeira, onde ficavam todos os anjos. Lá no alto, no centro, ficava a imagem de Nossa Senhora, que tinha a cada lado, um ano que cantaria para colocar a palma e outra que cantaria para colocar a coroa. Esses dois anjos eram escolhidos entre as crianças das Cruzadas ou do Catecismo (hoje Catequese). Ficávamos ansiosas para sermos escolhidas, principalmente para coroar Nossa Senhora. 
Os padres da minha época, que passaram por Sertaneja, eram italianos e mal sabiam falar o português. Lembro-me do padre Jeremias e do padre Antônio Maria Catâneo, muito rígido quanto aos trajes das mulheres e chamavam a atenção delas, mas eram muito dedicados e queridos por todos. 
   Maio, mês lindo de Nossa Senhora! (Crônica de IDIMEIA CASTRO, leitora da FOLHA, caderno FOLHA RURAL, página 2, coluna DEDO DE PROSA, sábado e domingo, 27 e 28 de maio de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário