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terça-feira, 18 de abril de 2017

O PEREGRINO DAS PALAVRAS



   Londrina é uma terra de peregrinos. Desde os tempos pioneiros, a cidade tem uma vocação única para acolher todos que aqui chegam dispostos a trabalhar e fazer o bem. A palavra “peregrino” tem origem na fusão dos termos latinos “per” (através) e “ager” (campo). Peregrino vem a ser todo aquele que viaja pelos campos com destino a um lugar sagrado, onde a vida pode recomeçar. 
   Não por acaso, o nosso principal escritor se chama Domingos Pellegrini. Fiel ao significado original do sobrenome, Domingos tem sido, desde o lançamento de seu primeiro livro (há exatos 40 anos), o contador das histórias da nossa gente e da nossa terra. Em romances, contos, crônicas e poemas, o peregrino das palavras faz uma viagem pela alma do povo londrinense, elevando-o, por vezes, à categoria do universal. 
   Londrina seria apenas uma cidade grande, e não uma grande cidade, se não tivesse uma história emocionante e real para contar. Sempre que um visitante revela interesse em conhecer melhor Londrina, eu lhe entrego nas mãos o romance épico “Terra Vermelha”, principal obra de Domingos Pellegrini. Esse livro é tão importante para Londrina quanto “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, para o Rio Grande do Sul , ou quanto os romances de Dickens e Dotoiévski para as antigas Londres e São Peterburgo. Nas páginas de “Terra Vermelha” encontramos o DNA do Homo londrinenses”.
   Nesta Páscoa, os leitores da Folha de Londrina receberam um presente: o jornal voltou a publicar semanalmente uma crônica de Domingos Pellegrini. São dois símbolos da cidade – o jornal e o escritor – unidos mais uma vez. No momento em que assume o posto de maior jornal do Paraná, a Folha faz por merecer o título. 
   Costumo dizer que já conhecia Londrina antes mesmo de conhecer a cidade, porque minha alma sempre se sentiu estrangeira longe daqui. De modo parecido, conheci os personagens de “Terra Vermelha” - José e Tiana – Gracia – Zé do Cano, Góis, Mané Felinto, João Português, Jeofrey... bem antes de me tornar amigo do autor e conhecer sua generosidade pessoal. 
   Para mim, os personagens do Domingos são tão reais que sinto saudade deles, e de vez em quando aparecem em meus sonhos e devaneios... O mesmo se dá com o eletricista 50 Voltz (que nome de personagem!), do conto “A maior ponte do mundo” e com o protagonista de “Carlitos perdeu a graça”. Às vezes estou na rua e penso: “O homem que acabou de passar parece com o Seo Celso. Ou então: “ Será que é aquela árvores que dava dinheiro?”
   Abri hoje o exemplar de “Terra Vermelha” que dei de presente à minha amada Rosângela antes de nos casarmos, há dez anos, e li a dedicatória na folha de rosto. “Que o nosso amor seja tão forte e bonito quanto o de José e Tiana”. Um pouco adiante, leio a epigrafe do caderno de poesia de Vó Tiana:
   “Põe na mão, olha bem, olha
   e sabe por que então
   essa terra é assim vermelha?
   É vermelha de paixão!”
   Não é só poesia, é verdade. Ainda bem que o peregrino das palavras continua caminhando ao nosso lado. (Crônica o jornalista e escritor Paulo Birguet. Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelodrin.com.br página 6, FOLHA MUNDO, coluna AVENIDA PARANÁ – por Paulo Briguet, segunda-feira, 17 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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