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sábado, 15 de abril de 2017

MÉDICO LOBSIOMEM


   Na década de 60 fomos morar na fazenda de café do Dr. Alberto. No vilarejo tinha um médico, Dr. Vieira, um nordestino, muito magro, narigudo, rosto comprido, barba e cabelo comprido como se usava naquela época. Corria um boato que o tal doutor se transformava em lobisomem em certas noites, pois com frequência algumas pessoas viam um animal esquisito rondando o pequeno hospital que ficava no limite da cidade, perto de uma extensa mata. 
   Passado algum tempo, seu Romério, o peão da fazenda, um capixaba, forte, corajoso, achou por bem tirar essa coisa a limpo. Sérgio, o “guarda-livro” da fazenda, um jovem grandalhão, bem apessoado, que tinha uma mecha branca no topete e que causava “suspiros” nas mocinhas do vilarejo, foi “convocado” para ajudar na empreitada. Romério, que era bom de laço, por vários dias fez uma “ceva” com restos de carne na mata para que o tal animal viesse com frequência. 
   Certa noite de lua clara, partiram os dois para a espera do animal. Sérgio, muito estressado com uma espingarda “pica-pau” carregada até a ponta do cano, e que mal sabia apertar o gatilho, e Romério, com seu laço armado, ficaram horas à espera. De repente ouviram passos e viram o animal chegar. Romério imediatamente lançou o laço conseguindo o alvo, mas Sérgio, no susto, disparou a arma para cima, assustando todos e o seu companheiro soltou a corda facilitando a fuga do animal com o laço no pescoço. Com o susto, Sérgio meio desajeitado caiu sobre um galho e feriu o braço. 
   Voltando à cidade tiveram de ir ao hospital fazer curativo. Era uma madrugada fria e lá veio prontamente o Dr. Vieira para atendê-lo, com um cachecol enrolado no pescoço. Como não era de costume naquelas bandas o cachecol, os dois “caçadores” se entreolharam e surgiu a dúvida: será que feriram o pescoço dele com o laço? 
   Dias depois o dr. Vieira, cansado da boataria e a perda de todos os clientes, partiu para outra região e nunca mais se ouviu falar do bom médico. Ah, quanto ao animal nunca mais viram o mesmo. Morreu ou ficou assustado e não voltou mais. (Crônica escrita por SIDNEY GIROTTO, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, sábado e domingo, 15 e 16 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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