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sábado, 11 de março de 2017

OBRIGADO, LONDRINA



   Meu caso de amor com Londrina está fazendo trinta anos. Quando a vi pela primeira vez, era apenas um garoto bobo. Ao olhar pela janela do ônibus e contemplar a linha dos prédios no horizonte, tive a estranha sensação de que voltava para casa. Mas como é possível voltar para um lugar em que nunca se esteve? E como é possível sentir saudade daquilo que ainda não se conhece? Londrina é isto, meus amigos. Ela desafia a lógica mais elementar. E o forasteiro, acolhido como se fosse um filho da terra, tem a sensação de que não conheceu uma cidade, mas presenciou um milagre. 
   É por isso que agora, quando olho pela janela ou caminho debaixo deste sol, sinto o desejo de dizer, em alto e bom som:
  - Obrigado, Londrina!
   Antes de conhecer Londrina, todas as cidades, por mais bonitas ou venturosas que fossem, me pareciam terras de exílio. Eu vinha de lugar nenhum, procurava uma cidade para ser minha, e encontrei a Filha de Londres. 
   Trinta nos nesta cidade. Londrina me deu tudo, tudo que eu sonhava e algumas coisas que eu nem imaginava. Desde o primeiro instante, eu via no sorriso dos rostos e na beleza dos lugares uma magnífica forma de consolação. E as tempestades que por essa época do ano caem no final da tarde me parecem chuvas de misericórdia. 
   Trinta anos não são trinta dias. É tempo suficiente para que um homem nasça, cresça, ame, trabalhe e dê frutos. Sartre dizia que trinta anos é idade da razão. Mas trinta anos em Londrina para mim significam a idade da paixão. 
   Aqui nasci muitas vezes, morri outras tantas. Aqui ressuscitei em manhãs de inexplicável azul. Desde o momento em que pus os pés na terra vermelha, soube que nunca mais sairia daqui. 
   Obrigado, Londrina. Pelo berço, pelo terço, pelo verso. 
   Obrigado, Londrina. Pelo café, pelo pé, pela fé.
   Obrigado, Londrina. Pela mão, pelo chão, pela visão. 
   Obrigado, Londrina. Pelo afã, pela irmã, pela manhã.
   Obrigado, Londrina. Pela rua, pela grua, pela lua. 
   Obrigado, Londrina. Pelo Igapó, pela avó, pelo dó. 
   Obrigado, Londrina. Pelo dia, pela via, pela sinfonia. 
   Obrigado, Londrina. Pela cerveja, pelo cereja, pela Igreja.
   Obrigado, Londrina. Pelo lar, pelo bar, pelo ar. 
   Obrigado, Londrina. Pelo abrigo, pelo Arrigo, pelo amigo. 
   Obrigado, Londrina. Pela cena, pela arena, pela pena.
   Obrigado, Londrina. Pelo meu trilho, por seu brilho, por meu filho. 
   Obrigado, Londrina. Pelo sim, pelo fim e por mim. 
   Obrigado, Londrina. Pelos seus, pelo meus – e por Deus. (Crônica escrita pelo jornalista e escritor PAULO BRIGUET. Fale com o colunista: avenidaparana@folhadelondrina.com.br coluna AVENIDA PARANÁ – por PAUO BRIGUET, página 12, FOLHA GERAL, 11 e 12 de março de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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