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terça-feira, 14 de março de 2017

FRUTAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA

  
Helena, que acaba de completar um ano, é alérgica à bababa

   Elas são indispensáveis no cardápio diário, mas podem provocar reações alérgicas na faixa etária pediátrica
   A fruta é o primeiro alimento que o bebê irá provar após os seis meses de aleitamento exclusivo. E esse momento, que é tão aguardado pelos pais, teve um capítulo à parte na casa da família Magalhães Vidak. “Conforme eu ai oferecendo a banana, ela ia cuspindo e, em poucos minutos, a boquinha ficou toda vermelhinha: depois foram os olhos e orelhas até se espalhar pelo corpo todo, conta Selma, mãe da Helena, que acaba de completar um ano. 
   Após se consultar com um especialista e realizar um teste cutâneo, Selma descobriu que a filha caçula é alérgica à banana. “Agora, só introduzo um alimento novo por dia porque fico apreensiva se ela terá uma reação alérgica ou não. Procuro tomar todo o cuidado possível”, comenta. 
   Alice Libos Boselli, de dois anos e meio, já pode comer todas as frutas, mas na introdução alimentar precisou ter um cardápio restrito. “Entre os 9 meses e um ano, precisei investigar qual alimento estava provocando alergia, além do leite de vaca. Tirei muita coisa do cardápio e só introduzi muito tempo depois”, conta a mãe Victória Libos. Dependendo do alimento, Alice tinha vermelhidão na pele, cólica e irritação intestinal. “ O médico disse que a alergia ao leite também poderia desencadear reações a outros alimentos. No caso dela, foi a banana, laranja, morango, tomate e kiwi”, afirma. 
   A alergista e imunologista pediátrica em Londrina, Ana Paula Juliani, diz que as reações alérgicas a alimentos são muito mais frequentes na faixa etária pediátrica (até os dois anos) do que nos adultos. “São inúmeros motivos, mas basicamente ocorrem porque são os primeiros alérgenos que a criança entra em contato. Vejo que tem aumentado o número de pacientes da faixa etária pediátrica com reação à fruta sim, mas essa frequência comparada ao do leite de vaca e ovo é bastante pequena”, aponta. 
   No dia a dia, Ana Paula tem visto casos de crianças com alergia à banana, mas esclarece que cada organismo pode dar uma resposta a determinados alimentos e que pode haver relação com outros agentes alergênicos. “Existem crianças maiores que têm alergia ao pólen e podem ter reação ao comerem frutas como banana, maçã, cereja, pêssego e kiwi”, diz. 
   A presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Virgínia Weffort, acrescenta que o kiwi tem um látex que em alguns casos podem desencadear uma reação em crianças também com alergia à proteína do leite de vaca. “Há uma semelhança nos componentes”, afirma. 
   Ela ainda ressalta que o morango não é muito recomendado entre os pediatras pela alta concentração de agrotóxicos em seu cultivo. “Não vai provocar uma alergia, mas pode causar uma intoxicação alimentar”, completa. 
   O médico nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), José Alves Lara Neto, esclarece que todas as frutas podem ter elementos que podem ser tóxicos, mas em doses extremamente pequenas. “Todas elas (frutas) glicocídeos cianogênicos, que são substâncias de defesa do fruto, funcionando como um herbicida natural. Esses elementos estão por exemplo, nas sementes de ameixa, pêssegos, cerejas e maçãs, mas para causar uma intoxicação o consumo deve ser em grande quantidade”, sustenta. 

   IMEDIATO   
   
   As alergias às frutas são caracterizadas como reações mediadas por anticorpos da classe IgF, isto é, reações imediatas. Sendo assim, a criança vai apresentar alguns sinais minutos após o consumo da fruta, o que facilita na identificação do alimento alergênico. “Os sintomas não são gastrointestinais, mas de pele. Já em casos graves, a criança pode ter um choque anafilático com queda de pressão sanguínea e quadro de insuficiência respiratória”, afirma a alergista. 
   Em relação ao tratamento, a especialista detalha que para as reações leves, de pele, uma dose de antialérgico é suficiente. “Se as reações forem generalizadas ou com sintoma respiratório envolvido é preciso buscar um pronto-socorro imediatamente para aplicação de adrenalina intramuscular”, indica. Com o diagnóstico confirmado, o médico poderá passar um kit de emergência para o paciente ter em casa. “É um plano emergencial até chegar ao hospital”, completa. 

   SAIBA MAIS

   No Brasil, há frutas que possuem mais agrotóxicos e/ou elementos que podem causar reações alérgicas. 

   Conheça algumas delas

Laranja, abacaxi e uva
Em anáse feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) essas frutas se destacam em 25 categorias de alimentos com maior número de amostras com resíduos de agrotóxicos, que representam riscos agudo à saúde, como intoxicações

   A maior questão não é o potencial alergênico, mas de intoxicação, pois no cultivo desta fruta utiliza-se uma grande quantidade de agrotóxico

   As reações costumam acometer crianças maiores, especialmente aquelas com alergia à proteína do leite da vaca e ao pólen


   Carambola 
   Cieentistas da USP isolaram uma neurotoxina presente na carambola (caramboxina), que atua no sistema nervoso quando esta não é filtrada pelo rim.Um dos pesquisadores diz que mesmo pessoas sem histórico de problemas renais devem consumir a fruta com moderação, pela presença de ácido oxálico que pode causar cálculos renais. 


   Lichia 
   Não há pesquisa que comprove o risco de consumir lichia no Brasil. A fruta foi relacionada com a morte de crianças na Índia, mas estudos científicos já contextualizaram o consumo excessivo da fruta com o estado de desnutrição das vítimas. 
FONTES : Alergista Ana Paula Juliani. Anvisa e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

RECOMENDAÇÕES DO MANUAL DE ALIMENTAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP)

   Menos agrotóxicos
   Para diminuir a quantidade de agrotóxicos nas frutas, lave bem com água corrente e deixe de molho. Para um litro de água usar uma colher de sobremesa de bicarbonato de sódio. Deixe em imersão de 15 a 20 minutos, enxágue, seque e guarde na geladeira. 
   Tudo liberado 
   Em relação às frutas, nenhuma tem contraindicação para bebês a partir de seis meses, inclusive as ácidas: o aleitamento materno deve ser mantido até os dois anos de idade ou mais. 

   A hora é agora
   Retardar a introdução de alimentos complementares não protege a criança do desenvolvimento de doenças alérgicas, podendo mesmo aumentar este risco. As frutas in natura, preferencialmente em forma de papa, devem ser oferecidas amassadas, sempre em colheradas, ou espremidas. O tipo de fruta a ser oferecido terá que respeitar características regionais, custo, estação do ano e presença de fibras. 

   Fruta é melhor que suco
   Os sucos naturais devem ser evitados, mas se forem administrados, que sejam, dados no copo, de preferência após as refeições principais, e não em substituição a estas, em dose máxima de 100ml/dia, com a finalidade de melhorar a absorção do ferro. 

   CASOS DAS LICHIAS AUMENTOU PREOCUPAÇÃO DOS PAIS 

   Recentemente, um estudo relacionado a morte de mais de 100 crianças em Muzafarpur, na Índia, com o consumo de lichias. A região é a maior no país em cultivo da fruta. Entretanto, um artigo publicado no final de janeiro pela revista científica britânica The Lancet, esclarece que a ausência de refeições ao longo do dia modificou significativamente o efeito da ingestão da fruta.
   Segundo o estudo, a toxidade da hipoglicina A e seu composto metilenociclopropilglicino (MCPG) alteram o metabolismo da glicose pelo corpo, e a ingestão excessiva da fruta com a baixa condição nutricional das crianças ocasionou casos de hipoglicemia noturna e, consequentemente, encefalopatia. 
   O endocrinologista pediátrico em Londrina, Claudinei da Costa, comenta que a divulgação dos casos das lichias fez com que aumentasse a preocupação dos pais durante as consultas, sobre quais alimentos seriam realmente perigosos ou que não deveriam ser fornecidos para os bebês. 
   Ele enfatiza que o caso das lichias é específico e deve ser contextualizado com as condições de vida das crianças indianas. “Essa tragédia, porém, serviu de alerta para que os pais buscassem mais informações sobre como introduzir novos alimentos aos filhos”, aponta.     A pediatra do departamento científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Virgínia Weffort, comenta que para saber se a lichia produzida no Brasil oferece algum risco é preciso realizar pesquisas específicas. “No Brasil, já se sabe que a carambola tem um toxina, mas que só é prejudicial para quem sofre de problema renal”, afirma. (M.O). (MICAELA ORIKASA – REPORTAGEM LOCAL, FOLHA SAÚDE, segunda-feira, 13 de março de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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